27 de abr. de 2007

Mises: avô de Gary Becker?

Esta é uma conexão usualmente estranha, mas achei interessante fazê-la, mesmo que historicamente não exista registro de uma influência direta. Veja o que Mises escreveu em 1933(infelizmente a primeira edição em inglês do livro que contém este ensaio só apareceu em 1960; será que perdemos muito tempo por conta disso?):

On the Development of the Subjective Theory of Value

1. The Delimitation of the "Economic"

Investigations concerning the money prices of goods and services constituted the historical starting point of the reflections that led to the development of economic theory. What first opened the way to success in these inquiries was the observation that money plays "merely" an intermediary role and that through its interposition goods and services are, in the last analysis, exchanged against goods and services. This discovery led to the further realization that the theory of direct exchange, which makes use of the fiction that all acts of exchange are conducted without the intervention of any medium, must be given logical priority over the theory of money and credit, i.e., the theory of indirect exchange, which is effected by means of money.

Still further possibilities were disclosed when it was realized that acts of interpersonal exchange are not essentially different from those which the individual makes within his own household without reaching beyond it into the social sphere. Hence, every allocation of goods—even those in the processes of production—is an exchange, and consequently the basic law of economic action can be comprehended also in the conduct of the isolated farmer. Thus, the foundation was laid for the first correct formulation and satisfactory solution of the problem of the delimitation of "economic" action from "noneconomic" action.

This problem had been approached previously in two different ways, each of which necessarily rendered its solution considerably more difficult. Classical economics had not succeeded in overcoming the difficulties posed by the apparent paradox of value. It had to construct its theory of value and price formation on the basis of exchange value and to start from the action of the businessman, because it was not able to base its system on the valuations of the marginal consumers. The specific conduct of the businessman is directed toward the attainment of the greatest possible monetary profit. Since the classical economists beheld in this phenomenon the essence of economic conduct, they had to distinguish accordingly between "economic" and "noneconomic" action. As soon as the transition was made to the subjective theory of value, this distinction, because it contradicts the basic thought of the whole system, could not but prove totally unserviceable and indeed nothing short of absurd. Of course, it took a long time before it was recognized as such.

If the distinction between the "economic" and the "noneconomic" proved untenable when formulated in terms of the motives and immediate goals of the actor, the attempt to base it on differences among the objects of action fared no better. Material things of the external world are exchanged not only against other things of this kind; they are exchanged also against other—"immaterial"—goods like honor, fame, and recognition. If one wishes to remove these actions from the province of the "economic," then a new difficulty arises. For a great many of the acts in which material goods are exchanged serve one or both parties to the transaction merely as a preliminary means for the attainment of such "immaterial" satisfactions. However, every attempt to draw a sharp distinction here necessarily led to barren scholastic discussions which entangled themselves in immanent contradictions—discussions such as the successors of the classical economists devoted to the related endeavors to delimit the concepts of a "good" and "productivity." But even if one wished to disregard this problem completely, one could not ignore the fact that human action exhibits an indissoluble homogeneity and that action involving the exchange of material goods against immaterial goods differs in no significant respect from action involving the exchange of material goods alone.

Two propositions follow from the subjective theory of value that make a precise separation between the "economic" and the "noneconomic," such as the older economics sought, appear impracticable. First, there is the realization that the economic principle is the fundamental principle of all rational action, and not just a particular feature of a certain kind of rational action. All rational action is therefore an act of economizing. Secondly, there is the realization that every conscious, i.e., meaningful, action is rational. Only the ultimate goals—the values or ends—at which action aims are beyond rationality and, indeed, always and without exception must be. It was no longer compatible with subjectivism to equate "rational" and "irrational" with "objectively practical" and "objectively impractical." It was no longer permissible to contrast "correct" action as "rational" to "incorrect" action, i.e., action diverted through misunderstanding ignorance, or negligence from employing the best means available to attain the ends sought. Nor was it henceforth possible to call an action irrational in which values like honor, piety, or political goals are taken into consideration. Max Weber's attempt to separate rational action from other action on the basis of such distinctions was the last of its kind. It was necessarily doomed to failure.

If, however, all conscious conduct is an act of rational economizing, then one must be able to exhibit the fundamental economic categories involved in every action, even in action that is called "noneconomic" in popular usage. And, in fact, it is not difficult to point out in every conceivable human—that is, conscious—action the fundamental categories of catallactics, namely, value, good, exchange, price, and costs. Not only does the science of ethics show this, but even everyday popular usage gives us ample demonstrations of it. One has only to consider, for example, how, outside the domain customarily designated as that of science, terms and phrases are used that have these categories as their specific denotation."

The best shot

Se você tiver apenas a oportunidade de ler um livro sobre o liberalismo, que seja "Segundo Tratado Sobre o Governo", de John Locke. Se você tiver um pouquinho mais de tempo, tente também:

"Teoria dos Sentimentos Morais" - Adam Smith

"Da liberdade" - John Stuart Mill

"O Caminho da Servidão" - F.A. Hayek

Um livro de cada século. Claro, há outros livros importantes, mas de maneira geral, é isso. E todos possuem edição em português, que não estão esgotadas.

26 de abr. de 2007

Religião no Brasil(clique na imagem para ampliar)

25 de abr. de 2007

Lendo Shikida e uma sugestão

Muito interessante o último artigo publicado pelo economista Claudio Shikida, sobre o que teria motivado a reeleição de Lula. Mas, ao ler o artigo, acabei pensando em outra questão, que é a seguinte: a matemática AFASTA leitores que não a compreendem de ler artigos que a utilize ou a discuta.

Claro que, como um paper, a discussão do modelo e a explicação do uso que é feito da matemática é perfeitamente compreensível. Mas se, por exemplo, um amigo meu que cursa História quiser ler o tal paper, provavelmente ele reclamará da 'inútil' e 'tediosa' discussão da matemática.

Mas isso não aconteceria com outros trabalhos? Por exemplo, um trabalho de sociologia que citasse autores ou idéias desconhecidas e incompreensíveis para um determinado leitor? Arrisco dizer que não. A diferença é a seguinte: enquanto que no uso do português, o indivíduo compreende o que está sendo expresso(reconhece as letras, a palavra, a estrutura gramatical), a maior parte das pessoas desconhece a linguagem matemática utilizada naquele nível. Mesmo que o indivíduo não entenda, por agora, o significado daquilo que foi expresso em língua portuguesa, ele compreende que algo foi expresso. Já quando se utiliza a linguagem matemática, ele não faz a mínima idéia daquilo que se tentou expressar.

Ou seja, o uso do português, mesmo que não seja claro, é superior ao uso da matemática, mesmo que corretamente utilizada, visto que no primeiro caso o indivíduo compreende exatamente por quais formas o pensador tentou expressar suas idéias, enquanto que no segundo ignora por completo o procedimento que foi adotado.

Pode-se argumentar, então, que os indivíduos só se importam com os resultados da pesquisa, mas não é exatamente verdade, pois também se interessam em refazer os passos que foram dados para alcançar aquele resultado. Mas até que ponto os indivíduos, pelo menos os leigos, querem refazer esses passos ou simplesmente tomar nota de que eles foram dados?

Como podemos resolver este impasse? Por parte do Shikida, escrever um artigo destinado ao público em geral, 'escondendo' a discussão matemática e do modelo, ainda que citando esta discussão em algum lugar, e resumindo os dados obtidos. Por parte do público em geral, dotá-lo de conhecimento matemático suficiente para entender aquilo que foi feito e depois discutido.

update:

Shikida me respondeu em seu blog(que também não é só dele, assim como o paper), aqui. É mais ou menos um artigo de jornal que eu sugiro sim, mas talvez um pouco mais longo que um artigo. Como eu disse, não vejo defeito algum na apresentação do artigo, que tem que ser daquele jeito mesmo, apenas penso nos outros 'companheiros' de humanidades(cientistas políticos, sociólogos, historiadores, etc) que podem ficar 'boiando'. Apesar de que, na minha opinião, isto se deva mais a um defeito de formação mesmo, e no longo prazo o ideal seria formá-los de tal forma a ler um paper desses sem maiores problemas.
Qual o custo da mudança de opinião?

Os intelectuais trabalham com um modelo bastante irrealista de que, dada uma série de opiniões que se apresentam a sua frente e dado o nível de conhecimento acumulado até então, eles escolherão a melhor opção. Escolhas ruins seriam basicamente fruto de (1)-o intelectual X possui conhecimento abaixo do esperado, dada a literatura existente até então; (2)-os intelectuais buscam outros objetivos além da teoria que explique melhor.

O problema de (1) é que o trabalho intelectual supõe que as informações sejam diretamente conhecidas, o que é bastante irrealista, portanto fazemos seleções, baseadas nos critérios mais distintos, para que consigamos acumular mais informações do que seria possível se fizéssemos uma conferência ponto por ponto. É possível, portanto, que um leigo 'conheça' mais economia do que um economista profissional, no sentido de ter lido alguns livros específicos sobre um determinado que um economista profissional não leu(não questiono aqui os trabalhos que o economista profissional tenha lido mais que o não-profissional, pois isto já é esperado). O risco é que o modo de selecionar o conhecimento adotado pelo intelectual pode se revelar viciado. Nem entro aqui no mérito de (2), apenas acredito que, de maneira geral, a identificação do 'compromisso' com a verdade é superestimado, o que acaba por fazer com que as discordâncias bem-intencionadas sejam jogadas para o canto.

Por enquanto, deixo uma pergunta pessoal, a ser respondida de maneira honesta(assim espero): qual o custo, para vocês, de mudar de opinião? O que lhes 'puxa' para a inércia?

23 de abr. de 2007

Top 100 liberalismo - parte 2

Gary Becker
43. A observação econômica do comportamento

Lysander Spooner
44.Vícios não são Crimes

Sumner
45.Sobre liberdade, Sociedade e Política

Frank Knight
46.Risco, Incerteza e Lucro
47.A ética da competição

Henry Hazlitt
48.Economia numa única lição

Ronald Coase
49.A firma, o mercado e a lei

Douglass North
50.Instituições, Mudança Institucional e Desempenho Econômico

David Friedman
51.O mecanismo da liberdade

Ralph Dahrendorf
52.Ensaios de Teoria da Sociedade

John Rawls
53.Uma teoria da justiça

Joseph Alois Schumpeter
54.Capitalismo, Socialismo e Democracia

Wilhelm Röpke
55.A estrutura social do livre mercado

Carl Menger
56.Princípios de economia

Benjamin Constant
57.Princípios de política aplicáveis a todos os governos

Ortega y Gasset
58.A rebelião das massas

59.Federalist Papers
Vários Autores

Isaiah Berlin
60.Quatro ensaios acerca da liberdade

Anthony de Jasay
61.O Estado

Lord Acton
62.Ensaios

Thomas Jefferson
63.Escritos completos

Kant
64.Crítica da Razão Prática
65.Metafísica da Moral

Cesare Beccaria
66.Dos Delitos e das Penas

Jeremy Bentham
67.Fragmento sobre o governo

H.L. Hart
68.O Conceito de Direito

Jean Baptiste Say
69.Tratado de Economia Política

Leonard Hobhouse
70. Liberalismo

Henry Sidgwick
71.Método da Ética

Thomas Hill Green
72.Leituras sobre os princípios da obrigação política

Bernard de Mandeville
73.Fábula das Abelhas

Adam Ferguson
74.Ensaio sobre a história da sociedade civil

Steve Pinker
75. Tábula Rasa

Comentário: a minha lista original era formada por 75 livros de orientação liberal, complementados com 25 livros de importância histórica e teórica para a reflexão sobre a sociedade, que não se encaixam necessariamente como liberais. Estou aberto a sugestões, e já recebi algumas, de títulos para fechar com 100 livros liberais esta minha lista. E, quem sabe, chegar a 100 livros não-liberais importantes, fechando um total de 200 livros recomendados.