13 de dez. de 2006

Qual o ponto?

Freqüentemente eu ouço lamentações do tipo "se as pessoas se preocupassem mais, fossem bem informadas, etc...nós não teríamos esse problema x". Sim, talvez seja realmente verdade, mas essa não é uma boa abordagem. Veja bem, é um FATO que as pessoas não se preocupam tanto e não são bem informadas. O que fazer para solucionar o problema X DADO esse estado de coisas que queremos solucionar? O economista gosta de pensar em termos de incentivos. Ele ACEITA, do ponto de vista teórico, que as pessoas se comportam da forma que se comportam. O que não significa que ele RECOMENDE que as pessoas ajam dessa forma. Mas se elas agissem da forma que o economista recomenda, não existiria problema em primeiro lugar. E então voltamos ao começo de tudo. Como fazer com que as pessoas se comportem da maneira que queremos que elas se comportem?(1)

Um dos fundamentos da mentalidade anti-capitalista se baseia justamente no fato de que o capitalista(o dono do capital) não necessariamente(2) intenciona o bem estar do consumidor nem do trabalhador. Claro, isso pode gerar uma série de conflitos, que serão resolvidos não pela exigência que o empresário "pense com mais cuidado em seus funcionários". Mas que se criem incentivos para que os empresários resolvam possíveis conflitos que as suas atividades podem provocar quando confrontadas com as atitudes de trabalhadores e consumidores. Muitas vezes o próprio mercado oferece esses incentivos, outras não. Só não é uma boa abordagem acabar com os acidentes de trânsito banindo os carros.

(1)Essa frase pode soar, à primeira vista, meio totalitária, mas na verdade nós queremos que as pessoas se comportem de outra forma para que problemas sejam resolvidos. Isso não significa que a solução não entrará em conflito com outros valores que consideramos tão importantes ou até mesmo mais. Somente se acreditarmos que não existe problema algum é que tal tipo de raciocínio torna-se repulsivo.

(2)eis a confusão acerca do pressuposto egoísta das ciências econômicas: não é que o economista acredite que o indivíduo aja sempre pensando apenas no seu bem estar, mas sim que os indivíduos nem sempre agem pensando no bem estar do próximo. É mais fácil pensar o segundo caso como uma possibilidade do primeiro. Além disso, modelar o comportamento individual como se o indivíduo pensasse predominantemente no bem estar do próximo esbarra no fato de que o bem estar que desejamos para o próximo nem sempre coincide com o bem estar que o próximo deseja para si mesmo. Portanto, mesmo numa economia solidária emerge o conflito.

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