27 de jan. de 2007

Comentando os comentários

Neo ludista comentou minha idéia de livro sobre o capitalismo puro. Postarei o comentário dele, intercalado com as minhas respostas:

"Já eu considero que a falha dos defensores do capitalismo é jamais vislumbrar o seu fim, como se ele fosse o final da História"

Com exceção do Fukuyama, nunca vi ninguém que considerasse o capitalismo como fim da história(e a tese de Fukuyama se refere mais à democracia do que propriamente ao capitalismo). Na verdade, nada proíbe que daqui a algumas décadas o socialismo ressurja, mesmo em países mais desenvolvidos. E quem vislumbrava fim da história eram socialistas e progressistas, que consideravam o capitalismo como sistema historicamente obsoleto. Marx, por exemplo, considerava que o socialismo era inevitável, a conclusão da história humana. Inclusive um dos mais importantes liberais do século XX, Karl Popper, escreveu vários textos condenando qualquer profecia histórica. Os defensores do capitalismo não usam o argumento histórico para defendê-lo, usam critérios normativos.

"embora ele talvez venha a ser, se conseguir destruir os recursos naturais a tempo, estamos indo por esse caminho, basta os chineses consumirem como os americanos."

A espécie humana invariavelmente vai desaparecer, mais dia menos dia. A nossa única alternativa é produzir mais e mais riquezas, para tentar sobreviver o maior tempo possível. E é só observar os incríveis resultados que alcançamos nos últimos 200 anos para constatar que estamos indo relativamente bem: a expectativa de vida deu um salto fantástico, a mortalidade infantil despencou, a renda per capita mundial cresceu assustadoramente.

"O socialismo mostrou-se repressor das liberdades individuais em nome do coletivismo. O capitalismo mostrou-se eliminador da ação coletiva em nome do individualismo."

Mas no capitalismo você é livre para se engajar com outros indivíduos em atividades de grupo.

"E individualismo sem individualidade, o mundo inteiro tem cada vez mais a cara dos EUA."

Olha, isto me parece apenas um chute monstro que não tem a menor base. E, além disso, os EUA são um país tão diverso que você me dizer que o mundo está cada vez mais a cara dos EUA só me faz concluir que o mundo está mais plural.

"Quanto à sociedade de castas e ao escravismo, bem, estamos falando do capitalismo, não é mesmo? As mesmas famílias detêm os mesmos de produção e passam para seus filhos, em geral brancos. Qual o mérito de nascer na "família certa"?"

Primeiro que a busca da meritocracia é a base do socialismo, não do capitalismo. No mercado, o indivíduo é remunerado de acordo com a produtividade do seu trabalho. Segundo, é justamente a diferença fundamental entre capitalismo e escravismo/sociedade de castas o fato de que no capitalismo existe mobilidade social, ou seja, há um probabilidade menor do que 1 de que um indivíduo filho de pobres seja pobre. Já na sociedade de castas, a probabilidade de alguém pertencente a uma casta inferior subir de vida é 0(só existe mobilidade de uma casta superior para um inferior), enquanto na escravista a probabilidade de um senhor se tornar escravo é 0(só existe mobilidade no sentido de que alguns escravos deixam de ser escravos). Esta é a situação que encontramos no capitalismo puro. Mas, como eu disse, talvez possamos ter uma situação mais desenvolvida numa espécie de capitalismo impuro, com programas governamentais que garantam a igualdade contra certas adversidades, aumentando a mobilidade de uma dada sociedade. Por exemplo, garantir que todos os indivíduos sejam alfabetizados.

"E trabalhar 8 horas por dia e passar 3 horas no trânsito é diferente de escravidão? Em que 50 por cento das pessoas odeiam seu trabalho e 30 suportam? Num mundo ideal não haveria fim de semana, para que parar de fazer o que eu gosto de fazer? Mas na prostituição trabalhista atual, é necessário, se não quando essa gente vai consumir?"

Explique-me como funcionaria este mundo ideal e podemos conversar. Você realmente não vê diferença entre alguém que trabalha por um determinado salário e um escravo? O indivíduo que recebe o salário é livre para gastar no que quiser. Já o escravo é dependente da vontade do seu senhor.

"Não sei, é preciso uma dose de ingenuidade muito grande para achar que o status quo é o máximo que a humanidade pode atingir."

Apresente argumentos ao invés de desqualificar a posição do oponente. Se quiser debater, ok, mas precisa considerar que a sua opinião pode não coincidir com a verdade. Se você não é capaz de tal movimento, sinto muito, mas este blog não é para você.

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