O jornalista Luciano Trigo escreveu um artigo questionando o uso da questão do álcool no debate sobre a legalização das drogas. Respondo, abaixo, alguns dos pontos levantados:
"1) São situações completamente diferentes. A Lei Seca tentou proibir algo que sempre foi permitido, enquanto liberar as drogas seria permitir o que sempre foi proibido."
Primeiro, não é verdade que as drogas atualmente proibidas sempre foram proibidas.
Um primeiro exemplo, mais conhecido, é o do consumo de ópio, bastante popular no século XIX, e que inclusive motivou um conflito entre o Reino Unido e a China.
Um segundo exemplo, menos conhecido, é o da cocaína, que era comumente usada em vinhos bastante populares no século XIX.
A maconha só começou a ser reprimida de maneira significativa no século XX.
update: o uso recreativo do ecstasy passou a ser reprimido há menos de 30 anos
Primeiro, não é verdade que as drogas atualmente proibidas sempre foram proibidas.
Um primeiro exemplo, mais conhecido, é o do consumo de ópio, bastante popular no século XIX, e que inclusive motivou um conflito entre o Reino Unido e a China.
Um segundo exemplo, menos conhecido, é o da cocaína, que era comumente usada em vinhos bastante populares no século XIX.
A maconha só começou a ser reprimida de maneira significativa no século XX.
update: o uso recreativo do ecstasy passou a ser reprimido há menos de 30 anos
"2) A criminalidade nos Estados Unidos na década de 30 não diminuiu por causa do fim da Lei Seca, mas por causa do New Deal, a política econômica de Roosevelt que gerou aumento de emprego e renda e melhores serviços sociais. "
A Proibição foi ativa desde 1920 até 1933. A Grande Depressão ocorreu a partir de 1929/1930. Entre 1920 e 1930, no entanto, a taxa de homicídios AUMENTOU nos EUA, ou seja, mesmo antes de qualquer efeito deletério que supostamente teria sido combatido pelo New Deal.
A Proibição foi ativa desde 1920 até 1933. A Grande Depressão ocorreu a partir de 1929/1930. Entre 1920 e 1930, no entanto, a taxa de homicídios AUMENTOU nos EUA, ou seja, mesmo antes de qualquer efeito deletério que supostamente teria sido combatido pelo New Deal.
"3) Por piores que sejam os efeitos do álcool, não dá para jogar todas as drogas, lícitas e ilícitas, na mesma vala comum. Existe uma razão para que bebidas alcoólicas sejam permitidas, e drogas como a cocaína, a heroína e o ecstasy não: a dependência. Existem dependentes do álcool, é claro, mas a imensa maioria das pessoas bebe socialmente, e pode muito bem viver sem a bebida. Com as drogas citadas, isso não acontece. Todo mundo que conhece um drogado - e todo mundo conhece - sabe disso."
Aqui há vários problemas. Em primeiro lugar, há uma confusão entre o critério que deveria ser utilizado para definir a legalidade das drogas(no caso, a sua gravidade) e o efetivamente utilizado pela atual legislação. Além disso, parece-me que a omissão da maconha é muito cômoda para defender que a atual legislação segue um critério razoável de dependência. Dizer que a imensa maioria bebe socialmente não anula o fato de que há dependentes do álcool - a maioria das pessoas também se utiliza socialmente da maconha, e até mesmo o uso do ecstasy também se dá socialmente. Um bom indicativo é que o consumo de drogas vem aumentando no mundo inteiro, o que parece indicar que há sim possibilidades de se usarem socialmente os mais variados tipos de drogas. Mas não é o uso social o argumento-base da legalização.
update 2: o grau de periculosidade das drogas é amplamente debatido:
http://www.guardian.co.uk/drugs/Story/0,,2040886,00.html
"Qualquer pessoa que tenha olhos para enxergar concorda que o viciado transforma a própria vida num inferno. O indivíduo tem o direito de escolher esse caminho? Não é uma questão de liberdade individual? Em termos."
Aqui concordamos que há um espaço importante para se discutir a liberdade individual.
"Quem se destrói através das drogas, ou faz do seu consumo o eixo de sua vida, não faz mal apenas a si mesmo - a não ser que não tenha filhos, mulher, pais, irmãos e amigos, isto é, se não fizer parte da sociedade. Mas, se isso fosse possível, as leis não seriam necessárias."
Mas este é um tipo de argumento que pode ser usado para reprimir qualquer tipo de comportamento que fuja da norma. Os indivíduos devem ter liberdade para escolher o seu próprio destino, devem ser punidos quando impedem outros de buscar o mesmo caminho.
"Na base do fenômeno do narcotráfico estão a explosão do consumo e a popularização da droga, em suma, está a escolha individual de consumir. Mas é mais fácil e conveniente esconder esta responsabilidade atrás de comparações com contextos completamente diferentes, como a América dos anos 20, ou negá-la em função da suposta necessidade imemorial do homem de se drogar."
Mas aí é que está o X da questão: a proibição destas drogas não impede o avanço e a popularização das drogas, além de ter o efeito perverso do tráfico de drogas. A legalização visa a resolver os problemas gerados pela proibição, que é ineficaz em seu objetivo e possui efeitos perversos.
A legalização não resolve o problema do consumo de drogas. Mas a proibição tampouco. A questão é comparar em qual situação preferimos estar.
Aqui há vários problemas. Em primeiro lugar, há uma confusão entre o critério que deveria ser utilizado para definir a legalidade das drogas(no caso, a sua gravidade) e o efetivamente utilizado pela atual legislação. Além disso, parece-me que a omissão da maconha é muito cômoda para defender que a atual legislação segue um critério razoável de dependência. Dizer que a imensa maioria bebe socialmente não anula o fato de que há dependentes do álcool - a maioria das pessoas também se utiliza socialmente da maconha, e até mesmo o uso do ecstasy também se dá socialmente. Um bom indicativo é que o consumo de drogas vem aumentando no mundo inteiro, o que parece indicar que há sim possibilidades de se usarem socialmente os mais variados tipos de drogas. Mas não é o uso social o argumento-base da legalização.
update 2: o grau de periculosidade das drogas é amplamente debatido:
http://www.guardian.co.uk/drugs/Story/0,,2040886,00.html
"Qualquer pessoa que tenha olhos para enxergar concorda que o viciado transforma a própria vida num inferno. O indivíduo tem o direito de escolher esse caminho? Não é uma questão de liberdade individual? Em termos."
Aqui concordamos que há um espaço importante para se discutir a liberdade individual.
"Quem se destrói através das drogas, ou faz do seu consumo o eixo de sua vida, não faz mal apenas a si mesmo - a não ser que não tenha filhos, mulher, pais, irmãos e amigos, isto é, se não fizer parte da sociedade. Mas, se isso fosse possível, as leis não seriam necessárias."
Mas este é um tipo de argumento que pode ser usado para reprimir qualquer tipo de comportamento que fuja da norma. Os indivíduos devem ter liberdade para escolher o seu próprio destino, devem ser punidos quando impedem outros de buscar o mesmo caminho.
"Na base do fenômeno do narcotráfico estão a explosão do consumo e a popularização da droga, em suma, está a escolha individual de consumir. Mas é mais fácil e conveniente esconder esta responsabilidade atrás de comparações com contextos completamente diferentes, como a América dos anos 20, ou negá-la em função da suposta necessidade imemorial do homem de se drogar."
Mas aí é que está o X da questão: a proibição destas drogas não impede o avanço e a popularização das drogas, além de ter o efeito perverso do tráfico de drogas. A legalização visa a resolver os problemas gerados pela proibição, que é ineficaz em seu objetivo e possui efeitos perversos.
A legalização não resolve o problema do consumo de drogas. Mas a proibição tampouco. A questão é comparar em qual situação preferimos estar.
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