24 de mar. de 2007

Duas idéias

Duas idéias que tenho:

-um videolog que serviria como espécie de faculdade virtual de economia, com a intenção de baixar o preço do conhecimento econômico. Seria basicamente um resumo daquilo que aprendi e continuo aprendendo na PUC, só que excluindo a parte matemática mais complicada. Custo: teria que comprar uma webcam. O que acham disso? Vocês assistiriam?

-criar um blog em inglês com o objetivo de encher o saco dos economistas americanos que escrevem blogs. Seria bom para eu treinar escrever em inglês. Custo: escrever menos neste blog. Sugestões de nome para o blog?
Boa notícia

Finalmente a África se afasta do seu passado terrível e abraça o progresso. O fosso entre os países que crescem a um ritmo impressionante e os que ficam para trás por conta das políticas imbecis de seus governantes fica cada vez maior.

Infelizmente, a AIDS continua sendo um entrave do qual a ação humana só pode manejar na margem, e que afeta mesmo países bem estruturados, como Botswana.
Porque combater o aquecimento global é um beco sem saída

"Reanalyzing the Stern Report, Yale University economist William Nordhaus recently noted that a "high-damage" scenario might reduce global GDP by almost 14 percent in the year 2200. On the Stern Report's own assumptions, "This means that per capita consumption would grow from $7,800 today to only $81,000 in 2200," instead of $94,000 (in today's dollars)."

Mais aqui.
O debate racional

O debate racional é sempre divertido se pensarmos que é impossível escolher racionalmente aquilo que vamos debater. O que nos é diposnibilizado para o debate é inteiramente alheio às nossas escolhas racionais, que apenas entrarão em ação no momento posterior, a partir do que nos foi dado, e não antes.

Por exemplo, Hayek caiu no ostracismo durante o pós-guerra e voltou a ser um autor discutido apenas a partir dos inegáveis fracassos do intervencionismo e do planejamento estatal. Ou seja, o fracasso do planejamento tornou necessário o conhecimento da literatura sobre o fracasso do planejamento. E como a literatura sobre o fracasso do planejamento só poderia ter surgido após o acontecimento real deste fracasso, a mesma se baseará em autores que fizeram previsões acuradas sobre as conseqüências do mesmo. Autores que, por fazerem previsões sobre aquilo que ainda não tinha acontecido, eram mais "ideológicos" que "científicos", e só puderam ser tidos como relevantes no debate racional apenas depois, e nunca antes, dos acontecimentos que trataram.

Poderia se dizer, de certa forma, que a adoção do planejamento era inevitável, visto que as inibições culturais contrárias ao mesmo se encontravam destruídas(principalmente após a Grande Depressão). Ora, se já não existia mais uma disposição anti-planejamento, seria preciso que o planejamento se mostrasse indesejável para que pudesse, novamente, ser rejeitado.

A maior parte das pessoas com as quais converso se dizem favoráveis às privatizações que ocorreram não por questões de eficiência mas sim porque as mesmas se transformam em cabides de emprego. Ora, se é possível fazer uma predição, ainda que não totalmente certa, sobre o provável funcionamento de uma empresa estatal, é difícil fazer uma previsão mais certa acerca do uso político da mesma para que seja ocupada por indicações não-técnicas. Na verdade, a objeção da literatura econômica não está essencialmente ligada a este caráter da empresa estatal, visto que poderiam ter sido adotadas outros tipos de reforma para evitar esta ocupação não-técnica.

Ou seja, um motivo forte para ser favorável à privatização só poderia ter surgido após o acontecimento real deste problema. É verdade que esta objeção pode continuar valendo para o futuro, mas agora como cultura, como disposição.
Perguntas elementares

Normalmente, aquilo que se torna comum acaba por ser menos questionado. Por exemplo, hoje damos por evidente que a economia do país tem que crescer de um ano para outro. Mas quem disse que isto é um fato? Existem 3 possibilidades:

-o valor real(descontada a inflação) do PIB aumentar
-o valor real se manter
-o valor real diminuir

Além disso, há a questão da renda per capita que, se está relacionada com os 3 cenários acima, não é determinada pelos mesmos. O que é renda per capita? É o PIB dividido pela população residente no país. Ora, é possível que:

-a população diminua
-a população se mantenha a mesma
-a população aumente

Novamente, é dado como certo que a população aumentará. Ora, se é dado como certo que a população aumentará, a única forma de aumentar a renda per capita é o crescimento do PIB superar o crescimento populacional.

Mas por que a população cresceu? Por que a humanidade não continuou sua história com um número mais ou menos constante de pessoas, cuja morte era reposta pelo nascimento?

Algumas mudanças são interessantes de serem registradas:

-ao longo do tempo, a espectativa de vida da humanidade aumentou
-ao longo do tempo, a mortalidade infantil diminuiu

Por que as pessoas estão vivendo mais? Por que mais crianças sobrevivem do que antes? Estas não são situações dadas, mas hoje não conseguimos imaginar um mundo no qual nossa espectativa de vida não aumente, ou que a mortalidade infantil caia.

O mesmo se dá com a educação. Queremos que todo mundo seja educado. Mas existiu uma época na qual a humanidade não conhecia a escrita. Como a escrita surgiu e de que forma ela se espalhou pelo mundo? A partir de que momento a educação deixou de ser passatempo e tornou-se algo essencial para a nossa vida?

Questões como essa me ocupam diariamente. Na verdade, é este tipo de exame que considero como exercício de perspectiva histórica. Não um determinismo tosco como prega o marxismo, mas sim o conhecimento da trajetória histórica dessas variáveis que afligem e dominam o nosso debate presente.

Na verdade, o pior legado de Marx é a sua teoria do desenvolvimento histórico. Eu diria que uma pessoa que aceita a perspectiva marxista nunca conseguirá imaginar que fenômenos independentes podem ocorrer numa mesma sociedade, e que ambos podem modificá-la de tal forma que uma nova sociedade surja, mas sem que os mesmos tenham tido qualquer ligação entre si. O marxismo não consegue conceber modificações numa determinada sociedade que ocorram sem conexão causal com as demais. Tudo forma um todo coerente. Por isso a idéia de crise, central ao marxismo.

Uma das mudanças sociais mais radicais que ocorreram na sociedade brasileira nos últimos 50 anos foi a redução da mortalidade infantil. Historicamente, este foi e continua sendo um evento decisivo em nossa trajetória. Mas quem ensina isso nas escolas brasileiras? Quem se debruça sobre as conseqüências e o impacto que este fato teve?

Por que ninguém se debruça sobre ele? Porque continuamos com a idéia de que as modificações decisivas em nossa história são fruto de uma escolha consciente, pensada e planejada. Admitir que grande parte dos fatos que modificam nossa sociedade ocorreram de maneira espontânea, e que a margem de planejamento que nos compete é dada pelo próprio fenômeno que não criamos mas que somos obrigados a lidar, seria emagrecer a pretensão de que a ordem social pode ser determinada pelo próprio homem, ao seu bel prazer e sem nenhum limite, seja material, mental ou orçamentário.

É este mesmo tipo de pensamento que coloca as notícias veiculadas pela televisão, artigos publicados em jornal, livros escritos, etc. como determinantes do modo de pensar do brasileiro, como se não recebêssemos informações das mais variadas fontes, e como se grande parte do processamento de informações não se desse num nível subconsciente, de maneira reflexa e não reflexiva. Admitir isto seria diminuir o papel que o opinionista possui na sociedade, logo a possibilidade de modificação dos hábitos e propensões das pessoas através do debate estritamente racional seria muito menor do que hoje imaginamos.
Comentando os comentários

Resposta ao meu teste sobre conhecimento de economia("por que um médico ganha mais que um pedreiro?").

"Claudio disse...

Já ouvi coisas como "Porque ele estudou mais"

Aí eu retruco:

"Mas o Ronaldinho não estudou mais que o médico..."

E a tréplica:

"Pois é, um absurdo, não?" "

Esta é uma resposta típica, que confunde questões positivas com questões normativas.

Uma questão positiva se refere a fatos, enquanto uma questão normativa se refere a juízos de valor.

Por exemplo, um mercenário é remunerado por seu trabalho, e provavelmente a maioria de nós considera que este tipo de trabalho não deveria existir. Mas isto não muda o fato de que existe um mercado no qual você pode contratar alguém para eliminar outras pessoas, e que existe um preço que normalmente é pago por este tipo de serviço.

O economista suiço Wilhelm Röpke costumava dizer, com muita sabedoria, que certas questões estão além do mercado, mas o tratamento destas questões não deve ignorar que exista um mercado.

Mas voltando à questão, mesmo excluindo o caso do Ronaldinho, a resposta dada ao Claúdio não responde a uma outra pergunta: "por que um médio ganha mais do que um professor de história?"

22 de mar. de 2007

O meu problema com o termo direita

O termo direita é de tão complicada definição quanto o termo esquerda. Mas apresenta uma complicação adicional.

Direita é usado tanto para designar os partidários do liberalismo quanto nacionalistas.

Alguns liberais gostam simplesmente de chamar os nacionalismos como também sendo de esquerda - mas eu acho um expediente bastante complicado.

Complicado porque, historicamente, é muito difícil sustentar esta tese. É mais fácil fazer, como o fez Hayek no "Caminho da Servidão", condenar o método pelo qual tanto socialistas quanto fascistas desejavam realizar seus objetivos.

Difícil dizer que um político como Le Pen seja esquerdista. Mas ele é claramente anti-liberal.

Há, portanto, certos elementos no que normalmente se chama de direita que dificilmente conseguem ser conjugados com a tradição do liberalismo. Principalmente se pensarmos que a economia ocupa um lugar muito marginal nas reflexões destes ideólogos, enquanto para o liberalismo a defesa do mercado livre é um dos pilares de seu pensamento.

Como, em grande parte, o movimento ao longo do século xx foi em direção a um maior controle estatal, tanto da atividade econômica quanto da vida privada, a defesa da conservação de certas instituições em países razoavelmente liberais se confundiu com a defesa, em parte, do status quo.

Mas isto não é exatamente verdade em países com poucos avanços na área liberal. Na verdade, a situação neles era ainda mais difícil: era preciso ser reformista para defender o liberalismo, e ao mesmo tempo rejeitar a alternativa socialista. Não é à toa, imagino, que em países de menor tradição liberal o liberalismo tenha sido mitigado em questões econômicas, por conta da trajetória conjunta que tanto liberais quanto socialistas trilharam na defesa de certas reformas.

O que quero dizer é que em certos países já existiam instituições razoavelmente liberais, e a ameaça se dava por conta dos experimentalismos econômicos, enquanto em outros a economia estava também sendo ameaçada, mas as instituições liberais precisavam, ao mesmo tempo, serem criadas.

O liberalismo tornou-se novamente urgente no fim do século passado, agora como força reformista. E exigindo reformas que talvez os seus pretensos companheiros de direita não consigam endossar.

Talvez tenhamos que esperar mais uns 10, 15 anos para que as forças políticas se ajustem melhor.
O meu problema com o termo esquerda

É que ele pode significar várias coisas distintas. Peguemos, por exemplo, o marxismo. Devido à experiência comunista do século xx, marxismo esteve na ordem do dia como doutrina esquerdista por excelência. Pelo menos se definiam desta forma.

Existiam aqueles que eram socialistas mas que não nutriam simpatias pelo marxismo, muito menos pelo comunismo. "Progressistas", "reformistas", "intervencionistas", cada um pregrando um tipo específico de socialismo.

Temos, por último, a linhagem que atualmente se define como socialdemocrata, que admite a existência da economia de mercado mas não abre mão da intervenção do Estado como "correção" do resultado da interação privada.

O marxismo, hoje, está em baixa. O socialismo democrático ainda possui seus adeptos, mas tem um cheiro de antiquado que é difícil disfarçar. Parecem muito mais saudosistas da época em que o futuro parecia coincidir com as suas aspirações, e lamentam a situação do mundo atual. Não conseguem entender ou aceitar as críticas que são feitas em relação aos efeitos perversos do intervencionismo que lutaram para implementar. Este é um tipo, aliás, que possui grande chance de se transformar em defensor do conservadorismo, já que compartilha com ele a aspiração por um mundo que se perdeu.

Já os socialdemocratas são, digamos, mais pragmáticos. Admitem que a intervenção do Estado nem sempre é efetiva, por exemplo. E não se focam tanto no meio utilizado no passado para alcançar os objetivos pretendidos. A propriedade pública dos meios de produção já não faz mais parte do seu leque de opções. Mas ainda admitem que o Estado faça uma série de intervenções.

O marxismo mostrou-se incrivelmente errado. O socialismo democrático pareceu factível durante algum tempo, mas o seu projeto idealista faliu ao não conseguir enfrentar os seus próprios fracassos. E a socialdemocracia está aí, ainda como alternativa. É o Estado do Bem Estar Social, com os seus 3 grandes investimentos: previdência, saúde e educação. E, mais do que nunca, com sua preocupação ecológica.

Até que ponto um socialdemocrata admite o funcionamento da ordem de mercado ou a doutrina dos direitos individuais, é difícil dizer. Mas estão muito mais próximos do liberalismo do que estiveram os socialistas, sem dúvida alguma.
política x Política

Há uma diferença fundamental. A primeira, política, se refere à administração da máquina governamental. A segunda, Política, discute o escopo e a finalidade do governo.

Discutir a indicação de fulano para o ministério X é política. Discutir se o governo deve intervir nesta área e como isto deve ser feito(quais os limites de sua ação) é matéria da Política.

A discussão política nacional se centra muito na política e pouco na Política.

Isso se deve a algumas razões: grande parte da discussão do legislativo realmente se foca em votar medidas administrativas, ligadas ao direito público. A questão da conveniência também é essencialmente política. Quando executar o orçamento, por exemplo. Mesmo a votação do orçamento é, em grande parte, discussão política, já que vários dos gastos já estão comprometidos por lei. Cabe apenas discutir qual é a forma mais conveniente de utilizá-lo.

Mudanças na lei podem ser tanto matéria da política quanto da Política. O grande problema é que o direito público se confundiu com o direito privado, e a expansão do primeiro acabou acarretando uma maior influência em relação ao segundo.

Uma escola do Estado ou qualquer outra que seja, de alguma forma, financiada pelo mesmo(bolsas, por exemplo), devem cumprir determinados requisitos explicitamente determinados. Já uma escola privada deveria funcionar livremente, e ser influenciada pelas decisões do direito público apenas em matérias de conveniência. Por exemplo, a diferenciação burocrática entre escola e curso, ou a validação por parte do Estado de que um aluno estudou de tal forma que é igualmente capaz como o que estudou na rede estatal(ou financiada pelo Estado).

Da mesma forma, associações voluntárias deveriam discriminar seus membros usando o critério que julgassem melhor. O fato do poder público não poder discriminar por certos critérios não implica que os agentes privados devam ser proibidos de agir dessa forma. Claro, se estes agentes tiverem alguma ligação com o governo, as regras do poder público devem valer também para o setor privado.

Bem se vê que grande parte da confusão entre direito público e direito privado se deu por causa das intervenções do Estado nos mais variados aspectos da vida social.

A área na qual este tipo de confusão acontece cada vez mais é, sem dúvida, a saúde. O serviço estatal de saúde passa a invadir, cada vez mais, a intimidade do indivíduo, pois a liberdade é uma ameaça constante ao planejamento. O Estado passa a querer escolher os riscos que o indivíduo pode tomar.

A saúde torna-se um dogma tão grande que simplesmente se nega o fato de que a morte é um fenômeno inevitável. Por mais planejamento que se faça, o indivíduo virá algum dia a falecer.

Mas quem se importa com o indivíduo? E quem é o indivíduo para desafiar a burocracia? Quem ele pensa que é para ousar assumir os riscos pela própria vida?

Por isso fala-se tanto em administração moderna. A administração é o velho planejamento social de sempre. A tão propagandeada "modernidade" se deve ao fracasso do socialismo e do intervencionismo em cumprir aquilo que prometeram. Por isso, é preciso "modernizar" o planejamento. O problema é que o planejamento do passado era baseado em "velhos" conceitos. Mas este é "novo". A ciência progrediu, agora utilizaremos o que há de mais moderno em matéria de conhecimento. Tentaremos captar melhor o elemento da liberdade, que teima em nos escapar.

Claro que poderiam assumir uma posição radical e pensar: "será que é possível uma ordem social fundada na liberdade?" Isto seria desafiar, de frente, a própria idéia do planejamento. Este é o passo que a maior parte dos bons articulistas brasileiros não consegue dar. Observam a mediocridade da vida política nacional e criticam até onde podem. Mas chega num ponto em que surtam. Ou que não conseguem estruturar o próximo passo.

Sejam bem vindos

A todos que chegaram aqui via blog do Laudano, sejam bem vindos.
Testando o conhecimento econômico

Se você quiser testar o conhecimento econômico de alguém, pergunte para esta pessoa porque um médico ganha mais do que um pedreiro. As respostas podem ser surpreendentes. Ou até mesmo assustadoras.
Hayek já sabia

"a abstração é concebida como uma propriedade restrita ao pensamento consciente, ou aos conceitos, quando, na verdade, ela é uma característica de todos os processos que determinam a ação, muito antes que surjam o pensamento consciente ou o que se expressa na linguagem. Sempre que um tipo de situação evoca num indivíduo uma disposição para determinado padrão de resposta, está presente a relação básica chamada de 'abstrata'. Sem dúvida, as faculdades peculiares de um sistema nervoso central consistem justamente no fato de que estímulos específicos não evocam diretamente respostas específicas, mas possibilitam a certas classes ou configurações de estímulos estabelecer determinadas disposições com relação a classes de ações, e que somente a superimposição de muitas dessas disposições especifica a ação particular resultante."

"22/03/2007 - 10h14

Cérebro tem área ligada à moral, aponta pesquisa

RAFAEL GARCIA
da Folha de S.Paulo

Para agir de maneira ética, basta pensar de maneira racional ou é preciso se deixar envolver também pelas emoções? De acordo com um estudo publicado ontem, julgamentos morais que as pessoas fazem quando estão diante de um dilema são mais emocionais do que se imaginava --sinal de que a moral não é baseada só na cultura e faz parte da natureza humana.

Para lidar com essa questão, um grupo liderado pelo psicólogo americano Marc Hauser, da Universidade Harvard, e pelo neurologista português António Damásio, da Universidade do Sul da Califórnia (ambas nos EUA), submeteu diversos voluntários a um questionário com situações imaginárias de deixar qualquer um arrepiado.

A maior parte delas envolvia decisões do tipo "escolha de Sofia", como sacrificar um filho para salvar um grupo de pessoas. Que mãe permitiria isso?

Para tentar inferir o peso da emoção em julgamentos morais, os cientistas incluíram entre os voluntários seis pessoas que haviam sofrido lesões numa área específica do cérebro, o córtex frontal ventromedial. Entre as diversas funções dessa estrutura está a integração de sentimentos à consciência.

O resultado do experimento foi que os portadores da lesão tiveram tendência a pensar de maneira mais "utilitária". Eles escolhiam, da maneira mais fria, a decisão que prejudicasse um número menor de pessoas.

"Em alguns casos --dilemas de grande conflito moral- a emoção parece ter papel significativo nos julgamentos", explicou à Folha Michael Koenigs, colaborador de Hauser e Damásio. "Como os pacientes com a lesão que estudamos presumivelmente carecem de emoções sociais/morais apropriadas, seus julgamentos são mais baseados em considerações utilitárias do que em fatores emocionais."

Uma das questões usadas pelos cientistas envolvia uma situação imaginária na qual famílias vivendo num porão se escondiam de soldados que procuravam civis para matar. Um bebê começa a chorar, e a única maneira de calá-lo para evitar que todos sejam encontrados é tapar a respiração da criança por tempo suficiente para matá-la. O que fazer?
Para os pacientes portadores da lesão estudada, a decisão correta era matar a criança.

Sem empatia

A resposta, de certa forma, era o que os pesquisadores esperavam. "Pacientes com essa lesão exibem menos empatia, compaixão, culpa, vergonha e arrependimento", disse Koenigs, que foi autor principal do artigo que descreve o experimento hoje no site da revista "Nature".

Ao contrário do que se podia imaginar, porém, essas características não tornaram essas pessoas "más" ou "cruéis". Para situações sem dilemas, as respostas dos pacientes lesionados foram bastante semelhantes às dos voluntários sadios.

Na opinião dos cientistas, o estudo é uma forte evidência de que pensar de maneira puramente utilitarista simplesmente vai contra a natureza humana. O córtex frontal ventromedial, afinal, seria um produto da evolução que ajudou a moldar a forma como as pessoas se relacionam.

"Ele parece ser uma "parte emocional" inata do cérebro, e parece ser crítico para certos aspectos da moralidade", diz Koenigs. O pesquisador afirma, porém, que não é possível separar a influência do ambiente na ética. "A reação da maquinaria emocional com respeito a questões morais é sem dúvida moldada por forças culturais." "

21 de mar. de 2007

Não

Tenho percebido que muita gente, inclusive muita gente boa, compra a ladainha de que a situação atual do país é resultado de uma elite (ou povo, que seja) inculta. O Brasil seria "atrasado" porque não somos "inteligentes".

Sinto muito, mas esta análise é furada. Na verdade, parece emular a falsa idéia de que a ordem social pode ser planejada.

Juntemos os maiores cérebros do mundo para uma comissão de controle de preços nos supermercados e o resultado será sempre o mesmo: um preço mais elevado do que aquele que seria determinado pelo mercado provocará excesso de oferta, e um preço abaixo daquele que seria alcançado pelo mercado provocará excesso de demanda.

O problema é que "não levamos as coisas a sério"? Bem, os soviéticos levavam a URSS a sério e isto não a impediu de ser um desastre.

Outros gostam de dizer: "veja como os americanos são bla bla bla"*. É verdade, os americanos são um monte de coisa. Mas peraí, o que é um "americano"? É Pat Robertson ou Gary Becker? George W. Bush ou Noam Chomsky? A verdade é que os americanos quebram o pau quando o assunto é política.

Alguns pregam uma administração "moderna". Mas o Estado não é uma empresa para ser administrada. O Estado é um instrumento de coerção. É totalmente distinto do funcionamento de uma empresa.

Digo isso porque a coalização anti-Lula vem sendo, para mim, uma decepção completa. Cadê a crítica que defende o indivíduo? Que desmonta falácias econômicas das mais simples? Que não se limita apenas a criticar a má administração(que, é verdade, salta aos olhos), mas que critica a própria idéia da intervenção governamental?

Cadê a coalização que defende o livre comércio, o fechamento do BNDES, a venda das empresas estatais, que luta pela maior liberdade do indivíduo, que denuncia as injustiças do judiciário, que defenda a extinção da OAB, o fim da exigência de diploma para quase todas as profissões, que ridiculariza as intervenções ridículas como décimo-terceiro e salário mínimo, que acha um absurdo que o Estado defina as matérias que um colégio deve ensinar, que defende a iniciativa privada como solução de conflitos(e não essas O_Gs que proliferam pelo país), que está pouco se lixando pra "esquerda" ou para a "direita", que se importa mesmo com a liberdade real, que não se satisfaz com a liberdade em teoria?

Onde está a defesa do império da lei, da economia de mercado, do Estado de Direito, do legislativo estrito, do constitucionalismo, da solução privada da maior parte dos processos judiciais?

Não vejo sequer sombra de uma estruturação de todos esses pontos. Veja, é muito fácil criticar o governo Lula, mas essa facilidade não deveria fazer com que a oposição ao mesmo descesse ao nível da vulgaridade.

O PT não me interessa. O que me importa é a liberdade. Quero uma sociedade livre e próspera. Quero menos política e mais Política. Quero a crítica da ação estatal per se e não da má admnistração.

Quero que defendam o direito do indivíduo de assumir os próprios riscos pela sua vida. Que defendam a liberdade como solução para os problemas da liberdade.

Não sejamos refém da mediocridade nos conformando à ela.

*a minha crítica é que, ao tentar responder ao anti-americanismo, se acaba emulando um pró-americanismo que, se num primeiro momento pode ser importante para divulgar certos valores, num segundo limita a própria defesa da liberdade. Eu não preciso comprar o pacote todo da sociedade americana, porque nem toda a sociedade americana se fundamenta no princípio da liberdade. É extremamente irritante ver quanto tempo se perde debatendo o governo Bush e tão pouco discutimos os princípios do liberalismo.
A força das idéias?

Argumentamos para expor preferências ou para conformar nossa realidade às mesmas? Quando queremos moldar a realidade, nada melhor do que agir. Se eu quero ir a um show em São Paulo, preciso:

- juntar dinheiro
-informar-me sobre horários de ônibus
-pensar no local em que vou dormir
-acomodar a realização de outros compromissos futuros

Não preciso argumentar muito. Eu simplesmente interajo com pessoas que desconhecem o objetivo da minha ação. O meu empregador não sabe no que eu gasto meu dinheiro, a empresa de ônibus desconhece o motivo da minha viagem, etc. Mas nos dois últimos casos talvez eu precise argumentar: para convencer um amigo a me deixar dormir na casa dele, para adiar compromissos explicando o quão importante é o show X.

A argumentação é utilizada para indicar a conhecidos meus que eu estaria mais feliz se eles me ajudassem. Claro que esta ajuda implica num custo. Por isso eu preciso ser bem convincente para que eles me auxiliem.

Ou seja, a argumentação pode sim servir para conformar o mundo ao nosso gosto. Mas será que sempre que argumentamos estamos desejando isso?

Por que alguém, por exemplo, perde tempo discutindo no Orkut? Por que eu mantenho um blog no qual faço determinadas observações? Que espero alcançar com isso?

O que leva Veríssimo a escrever um artigo sobre Milton Friedman? Por que as pessoas perdem tempo rebatendo o artigo de Veríssimo? Por que as pessoas protestam contra Bush? Esperam conseguir algo com isso?

Na verdade, eu acredito que as pessoas valorizam muito mais a demonstração das idéias do que propriamente a busca da verdade ou a modificação do universo.

Ou seja, as pessoas valorizam demonstrar que possuem determinadas opiniões ao invés de outras. E quando ouvimos uma pessoa argumentando contra nossas idéias, é como se o valor das mesmas fosse diminuído.

Os protestos contra Bush são, em certo sentido, um grande desperdício de energia. Os indivíduos poderiam estar fazendo coisa melhor. Mas se protestam contra Bush é porque valorizam este ato. Há um prazer em xingá-lo, mesmo não fazendo diferença alguma.

Teoricamente, seria razoável que argumentássemos de maneira racional acerca do governo. Afinal, a decisão de alguém sobre como o governo deve agir afeta diretamente a nossa vida. Deveríamos dialogar, de maneira calma e ponderada.

Mas isto é de um irrealismo sem limites. Ninguém discute de maneira calma sobre o governo. Inclusive não se furtam em caluniar ou mentir sobre um determinado político. Nem quando estamos concorrendo por um emprego ou uma vaga importante fazemos isso(a maioria de nós). Por que agimos assim em relação ao governo?

A resposta é simples: o governo não é uma organização voluntária. Ninguém criou o governo, ele é fruto de um processo de evolução. Sociedades nas quais existia uma instituição chamada governo prosperaram, enquanto sociedades sem governo foram destruídas ou dizimadas.

Não podemos abandonar o governo, não existe esta opção. Só podemos abandoná-lo se todas as outras pessoas também o fizessem. A grande questão dos filósofos políticos sempre foi a seguinte: como os indivíduos sairam de um Estado sem governo para um Estado com governo? A questão que se coloca no século XXI é outra: como o indivíduo poderia fugir do Estado com governo para um Estado sem governo?

Mas continuo com a minha questão: por que as pessoas argumentam? E, principalmente, por que as pessoas argumentam sobre situações que não podem modificar?
33 anos depois, IBGE mostra que Hayek estava certo

"Certamente sabemos que, com relação ao mercado e a estruturas sociais similares, existe um enorme número de fatos que não podemos medir e sobre os quais só temos informações bastante imprecisas e gerais. E porque os efeitos destes fatos em qualquer instância específica não podem ser confirmados por evidência quantitativa, eles são simplesmente desconsiderados por aqueles que só admitem aquilo que consideram evidência científica: assim sendo, eles alegremente continuam na ficção de que os fatores que eles podem medir são os únicos que são relevantes." F.A. Hayek

Novo cálculo faz valor do PIB de 2005 ser 10,9% maior, indica o IBGE


18 de mar. de 2007

Democracia é importante?

Democracia é importante, sem dúvida, tanto que ela está defendida no nome deste blog. Mas democracia não é tudo. Uma inflação implementada democraticamente continua possuindo todos os efeitos perversos da inflação. Um controle de preços é ineficiente tanto numa democracia quanto numa ditadura. E percorre todo o espectro ideológico. O controle de preços dos governos Nixon e Sarney, "de direita", foram tão fracassados quanto está sendo o controle de preços efetuado pelos governos "de esquerda" de Hugo Chavez e Nestor Kirshner.

Os efeitos do protecionismo são os mesmos tanto nos Estados Unidos quanto na Coréia do Norte.

A democracia pode, e deve, ser defendida pelos seus efeitos benéficos, que superam bastante os seus defeitos. Mas defender que a democracia leva à adoção de políticas necessariamente eficientes é prometer mais do que a democracia pode cumprir. E, ao fazermos isso, estamos desvalorizando a própria democracia e abrindo caminhos para que outros sistemas sejam vistos como mais palatáveis. A democracia não é a panacéia para resolvermos todos os nossos problemas.

Na verdade, o grande valor da democracia é a possibilidade de corrigir políticas equivocadas. Se podemos considerar que uma ditadura perfeita seria superior a uma democracia falível, só podemos fazê-lo ao excluir o problema de adotar os mecanismos mais efetivos para fazer com que políticas boas sejam adotadas. Ou seja, uma democracia falível é infinitamente superior à uma ditadura falível, pois é impossível modificar as políticas equivocadas adotadas por uma ditadura, a menos que o ditador assim o queira. Já numa democracia, as medidas de um determinado governo podem ser modificadas pelo outro que o sucede. É verdade que medidas boas também podem ser descartadas, mas esta abertura também se dá em relação às medidas ruins. No longo prazo, é provável que as medidas boas sejam conservadas e as medidas ruins descartadas, se as instituições forem de tal forma que as medidas governamentais precisem ser coerentes entre si. Por isso as restrições constitucionais são tão importantes.

Mas se dissermos que toda medida democraticamente aprovada é correta, então claramente veremos que isto não é verdade, pois muitas medidas ruins são aprovadas pela maioria. E ficaremos tentados a aprovar a adoção de uma ditadura benevolente, que aplique somente as medidas corretas.

Reconhecer, portanto, a falibilidade do processo de decisão democrático é o primeiro passo para entender que todo processo decisório é falível e que, dada esta realidade, a democracia é o meio mais efetivo para que possamos corrigir os erros governamentais.
O fatalismo liberal

“Para compreender nossa civilização é preciso perceber que esta ordem não foi fruto do desígnio ou da intenção humana, mas nasceu espontaneamente; nasceu de certos costumes tradicionais e em grande parte morais, muitos dos quais desagradam aos homens, cuja importância estes em geral não entendem, e cuja validade não podem provar, e que, não obstante, se difundiram de modo relativamente rápido, graças a uma seleção evolucionária – o crescimento comparativo da população e da riqueza, dos grupos que por acaso os seguiram. A adoção não premeditada, relutante, até mesmo penosa desses costumes, manteve tais grupos unidos, aumentou seu acesso a valiosas informações de todo o tipo, e permitiu que frutificassem e multiplicassem, enchessem a terra e a submetessem (Gênesis 1,28). Este processo é talvez o aspecto menos valorizado da evolução humana” F.A. Hayek