21 de mar. de 2007

Não

Tenho percebido que muita gente, inclusive muita gente boa, compra a ladainha de que a situação atual do país é resultado de uma elite (ou povo, que seja) inculta. O Brasil seria "atrasado" porque não somos "inteligentes".

Sinto muito, mas esta análise é furada. Na verdade, parece emular a falsa idéia de que a ordem social pode ser planejada.

Juntemos os maiores cérebros do mundo para uma comissão de controle de preços nos supermercados e o resultado será sempre o mesmo: um preço mais elevado do que aquele que seria determinado pelo mercado provocará excesso de oferta, e um preço abaixo daquele que seria alcançado pelo mercado provocará excesso de demanda.

O problema é que "não levamos as coisas a sério"? Bem, os soviéticos levavam a URSS a sério e isto não a impediu de ser um desastre.

Outros gostam de dizer: "veja como os americanos são bla bla bla"*. É verdade, os americanos são um monte de coisa. Mas peraí, o que é um "americano"? É Pat Robertson ou Gary Becker? George W. Bush ou Noam Chomsky? A verdade é que os americanos quebram o pau quando o assunto é política.

Alguns pregam uma administração "moderna". Mas o Estado não é uma empresa para ser administrada. O Estado é um instrumento de coerção. É totalmente distinto do funcionamento de uma empresa.

Digo isso porque a coalização anti-Lula vem sendo, para mim, uma decepção completa. Cadê a crítica que defende o indivíduo? Que desmonta falácias econômicas das mais simples? Que não se limita apenas a criticar a má administração(que, é verdade, salta aos olhos), mas que critica a própria idéia da intervenção governamental?

Cadê a coalização que defende o livre comércio, o fechamento do BNDES, a venda das empresas estatais, que luta pela maior liberdade do indivíduo, que denuncia as injustiças do judiciário, que defenda a extinção da OAB, o fim da exigência de diploma para quase todas as profissões, que ridiculariza as intervenções ridículas como décimo-terceiro e salário mínimo, que acha um absurdo que o Estado defina as matérias que um colégio deve ensinar, que defende a iniciativa privada como solução de conflitos(e não essas O_Gs que proliferam pelo país), que está pouco se lixando pra "esquerda" ou para a "direita", que se importa mesmo com a liberdade real, que não se satisfaz com a liberdade em teoria?

Onde está a defesa do império da lei, da economia de mercado, do Estado de Direito, do legislativo estrito, do constitucionalismo, da solução privada da maior parte dos processos judiciais?

Não vejo sequer sombra de uma estruturação de todos esses pontos. Veja, é muito fácil criticar o governo Lula, mas essa facilidade não deveria fazer com que a oposição ao mesmo descesse ao nível da vulgaridade.

O PT não me interessa. O que me importa é a liberdade. Quero uma sociedade livre e próspera. Quero menos política e mais Política. Quero a crítica da ação estatal per se e não da má admnistração.

Quero que defendam o direito do indivíduo de assumir os próprios riscos pela sua vida. Que defendam a liberdade como solução para os problemas da liberdade.

Não sejamos refém da mediocridade nos conformando à ela.

*a minha crítica é que, ao tentar responder ao anti-americanismo, se acaba emulando um pró-americanismo que, se num primeiro momento pode ser importante para divulgar certos valores, num segundo limita a própria defesa da liberdade. Eu não preciso comprar o pacote todo da sociedade americana, porque nem toda a sociedade americana se fundamenta no princípio da liberdade. É extremamente irritante ver quanto tempo se perde debatendo o governo Bush e tão pouco discutimos os princípios do liberalismo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente texto...

O cenário político no Brasil vive uma crise cíclica: o papel da oposição é sempre o de apontar falhas pontuais na Administração do governante. Foi o que fez o PT e é o que está fazendo PSDB/PFL.

Nada de críticas estruturais, já que a oposição de hoje é o governo de amanhã....o PT que o diga...