24 de mar. de 2007

O debate racional

O debate racional é sempre divertido se pensarmos que é impossível escolher racionalmente aquilo que vamos debater. O que nos é diposnibilizado para o debate é inteiramente alheio às nossas escolhas racionais, que apenas entrarão em ação no momento posterior, a partir do que nos foi dado, e não antes.

Por exemplo, Hayek caiu no ostracismo durante o pós-guerra e voltou a ser um autor discutido apenas a partir dos inegáveis fracassos do intervencionismo e do planejamento estatal. Ou seja, o fracasso do planejamento tornou necessário o conhecimento da literatura sobre o fracasso do planejamento. E como a literatura sobre o fracasso do planejamento só poderia ter surgido após o acontecimento real deste fracasso, a mesma se baseará em autores que fizeram previsões acuradas sobre as conseqüências do mesmo. Autores que, por fazerem previsões sobre aquilo que ainda não tinha acontecido, eram mais "ideológicos" que "científicos", e só puderam ser tidos como relevantes no debate racional apenas depois, e nunca antes, dos acontecimentos que trataram.

Poderia se dizer, de certa forma, que a adoção do planejamento era inevitável, visto que as inibições culturais contrárias ao mesmo se encontravam destruídas(principalmente após a Grande Depressão). Ora, se já não existia mais uma disposição anti-planejamento, seria preciso que o planejamento se mostrasse indesejável para que pudesse, novamente, ser rejeitado.

A maior parte das pessoas com as quais converso se dizem favoráveis às privatizações que ocorreram não por questões de eficiência mas sim porque as mesmas se transformam em cabides de emprego. Ora, se é possível fazer uma predição, ainda que não totalmente certa, sobre o provável funcionamento de uma empresa estatal, é difícil fazer uma previsão mais certa acerca do uso político da mesma para que seja ocupada por indicações não-técnicas. Na verdade, a objeção da literatura econômica não está essencialmente ligada a este caráter da empresa estatal, visto que poderiam ter sido adotadas outros tipos de reforma para evitar esta ocupação não-técnica.

Ou seja, um motivo forte para ser favorável à privatização só poderia ter surgido após o acontecimento real deste problema. É verdade que esta objeção pode continuar valendo para o futuro, mas agora como cultura, como disposição.

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