21 de mar. de 2007

A força das idéias?

Argumentamos para expor preferências ou para conformar nossa realidade às mesmas? Quando queremos moldar a realidade, nada melhor do que agir. Se eu quero ir a um show em São Paulo, preciso:

- juntar dinheiro
-informar-me sobre horários de ônibus
-pensar no local em que vou dormir
-acomodar a realização de outros compromissos futuros

Não preciso argumentar muito. Eu simplesmente interajo com pessoas que desconhecem o objetivo da minha ação. O meu empregador não sabe no que eu gasto meu dinheiro, a empresa de ônibus desconhece o motivo da minha viagem, etc. Mas nos dois últimos casos talvez eu precise argumentar: para convencer um amigo a me deixar dormir na casa dele, para adiar compromissos explicando o quão importante é o show X.

A argumentação é utilizada para indicar a conhecidos meus que eu estaria mais feliz se eles me ajudassem. Claro que esta ajuda implica num custo. Por isso eu preciso ser bem convincente para que eles me auxiliem.

Ou seja, a argumentação pode sim servir para conformar o mundo ao nosso gosto. Mas será que sempre que argumentamos estamos desejando isso?

Por que alguém, por exemplo, perde tempo discutindo no Orkut? Por que eu mantenho um blog no qual faço determinadas observações? Que espero alcançar com isso?

O que leva Veríssimo a escrever um artigo sobre Milton Friedman? Por que as pessoas perdem tempo rebatendo o artigo de Veríssimo? Por que as pessoas protestam contra Bush? Esperam conseguir algo com isso?

Na verdade, eu acredito que as pessoas valorizam muito mais a demonstração das idéias do que propriamente a busca da verdade ou a modificação do universo.

Ou seja, as pessoas valorizam demonstrar que possuem determinadas opiniões ao invés de outras. E quando ouvimos uma pessoa argumentando contra nossas idéias, é como se o valor das mesmas fosse diminuído.

Os protestos contra Bush são, em certo sentido, um grande desperdício de energia. Os indivíduos poderiam estar fazendo coisa melhor. Mas se protestam contra Bush é porque valorizam este ato. Há um prazer em xingá-lo, mesmo não fazendo diferença alguma.

Teoricamente, seria razoável que argumentássemos de maneira racional acerca do governo. Afinal, a decisão de alguém sobre como o governo deve agir afeta diretamente a nossa vida. Deveríamos dialogar, de maneira calma e ponderada.

Mas isto é de um irrealismo sem limites. Ninguém discute de maneira calma sobre o governo. Inclusive não se furtam em caluniar ou mentir sobre um determinado político. Nem quando estamos concorrendo por um emprego ou uma vaga importante fazemos isso(a maioria de nós). Por que agimos assim em relação ao governo?

A resposta é simples: o governo não é uma organização voluntária. Ninguém criou o governo, ele é fruto de um processo de evolução. Sociedades nas quais existia uma instituição chamada governo prosperaram, enquanto sociedades sem governo foram destruídas ou dizimadas.

Não podemos abandonar o governo, não existe esta opção. Só podemos abandoná-lo se todas as outras pessoas também o fizessem. A grande questão dos filósofos políticos sempre foi a seguinte: como os indivíduos sairam de um Estado sem governo para um Estado com governo? A questão que se coloca no século XXI é outra: como o indivíduo poderia fugir do Estado com governo para um Estado sem governo?

Mas continuo com a minha questão: por que as pessoas argumentam? E, principalmente, por que as pessoas argumentam sobre situações que não podem modificar?

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