2 de jul. de 2007

Hábito ruim

Um dos piores hábitos do estudante brasileiro* se dá quando, ao encontrar uma tese que ele desconhece e portanto concluir que ela é sem valor. Ou seja, tudo que é distinto daquilo que constitui seu nicho de estudo ou seu corpo de conhecimento não é autorizado a sobreviver.

Se estamos discutindo as causas da Segunda Guerra Mundial e alguém propõe uma visão alternativa sobre o assunto, ela é simplesmente descartada porque não é a visão convencional. Talvez alguém até diga: "seu burro, todo mundo sabe que...". Mas só existe o debate justamente para questionar aquilo que todo mundo sabe! A visão convencional pode ser usada para descartar uma tese alternativa no seguinte sentido: em primeiro lugar, a tese alternativa pode ser reduzida à tese convencional; em segundo lugar, a tese convencional pode refutar a tese alternativa, mostrando a falsidade de suas bases; em terceiro lugar, a tese convencional pode ser relativamente superior à tese alternativa(no caso em que as duas são bastante inadequadas). Mas meramente apresentar a tese convencional como prova de que a tese alternativa não se sustenta, sem articular uma em relação à outra, é fugir do debate.

Na verdade, este tipo de comportamento foi muitas vezes apresentados pelos intelectuais marxistas num período de maior ortodoxia: toda teoria alternativa ao marxismo que não pudesse ser deduzida dos pressupostos marxistas era simplesmente descartada como errada, não por insuficiência de explicar a realidade, mas pelo fato de não ser compatível com o marxismo. Que o marxismo era adequado para explicar a realidade não era mais questionado. As outras teorias só tinham vida em formato filomarxista(marxismo funcionalista, marxismo weberiano). Quando intelectuais anglo-saxãos 'ousaram' formular o marxismo analítico, foram bastante criticados por marxistas de todas as vertentes, não tanto pelo fato de não serem 'fiéis' ao marxismo(em certo sentido, toda corrente do marxista era 'herege'), mas por tentar estudar o marxismo sob a luz de uma tradição que se construiu a parte do próprio marxismo.

*falo do estudante brasileiro porque é aquele que eu conheço.

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