19 de dez. de 2006

Ainda imóveis - agora um outro problema

O André deixou no ar a suposição de que a rede de transporte define a ocupação urbana, e não o oposto. Eu não consegui imaginar uma situação específica na qual isso aconteça, mas o Claudio Avolio nos traz informações direto do Rio:

"Um exemplo claro, principalmente entre a classe média, é o caso do metrô. Os imóveis no Rio de Janeiro, onde o tempo para se deslocar está cada vez maior, que estão localizados próximo ao metrô são bem mais valorizados que os mais afastados. Isso vale para bairros como Botafogo e Tijuca principalmente. Como o preço do imóvel dispara (ao ponto de um apto de 2 qts e +/- 100 m2 custar algo em torno de 300 mil), acaba concentrando uma parcela da classe média mais "endinheirada" nessas regiões. Quando uma região acumula atrativos cobiçados pela população local, os imóveis sobem de preço e conseqüentemente espanta os mais pobres."

O André tinha escrito:

"Por exemplo, até a Revolução Industrial os pobres preferiam morar no entorno das cidades, para ficarem próximos das oficinas em que trabalhavam, enquanto a aristocracia se concentrava no centro."

E parece que os pobres ainda preferem morar perto das "oficinas". Podemos explicar a expansão das favelas sob esse prisma. Se esses pobres habitassem a região da Baixada Fluminense, o tempo que demorariam para se deslocar até o seu local de trabalho seria tão grande que talvez compense para eles morar perto do trabalho, ainda que precariamente(e morar na Baixada é tão ou mais precário que morar em certas favelas). Se o transporte público funcionasse de maneira mais eficiente(e aqui entra o argumento do André), talvez eles pudessem optar por morar mais longe. Isso, claro, acompanhado de uma melhora do fornecimento de serviços públicos na Baixada Fluminense.

E, claro, essas regiões distantes são evitadas pelos mais ricos, que podem morar de maneira razoavelmente confortável e relativamente próxima do trabalho(mesmo quando optam em morar longe, os ricos atraem serviços e atividades econômicas que se instalam ao redor de sua clientela). Apesar de que, como o Claudio aponta, o transporte público tem se tornado um problema tão sério que até mesmo a população de maior poder aquisitivo tem sofrido com ele.

Mas o que é morar "perto" do trabalho numa cidade de grande porte? Como isso funciona em outras cidades fora do Brasil? Existe "solução" para o problema do transporte público?

3 comentários:

nenhum disse...

Exemplos:

- Dentro do Estado de São Paulo, cidades inteiras, como Marília, Mairinque, Brodósqui, Santo André, entre várias outras, foram fundadas no entorno de estações ferroviárias.

- Quando a ferrovia Central do Brasil passou pelo Vale do Paraíba, várias cidades servidas cresceriam a ponto de se transformarem em metropóles como São José dos Campos e Taubaté. Cidades que ficaram de fora quase despareceriam, se transformando nas famosas cidades mortas.

- Quando a São Paulo Railway foi passar por onde é o ABC Paulista hoje, eles não quiseram fazer uma curva para servir a cidade de São Bernardo, e construiram uma estação na periferia desta cidade. A vila construída no entorno da estação se transformaria na cidade de Santo André. São Bernardo só retomaria sua importância com a construção da Via Anchieta.

- Quando a linha da ferrovia Santa Fé passou pelo Novo México, pretendia-se passar pela capital Santa Fé. Por causa da geografia, a linha passou mais ao sul, em Albuquerque. Albuquerque se transformaria na maior cidade do Estado, e Santa Fé encontraria vocação como cidadezinha turística.

- A maioria dos estudiosos sobre o sprawl é unânime ao dizer que o Interstate Highway System foi o ponto de partida desse processo nos EUA.

- Quando Alphaville foi fundada, não havia nada no terreno do entorno da Rodovia Castello Branco. Ela logo se tornaria o ponto de maior demanda da rodovia.

nenhum disse...

A questão de morar perto do trabalho é complexa. Na verdade, o que ocorre é que cada um se adapta as suas necessidades.

Por um exemplo, Francisco Morato é bem longe da capital, mas morar naquela cidade e trabalhar em São Paulo de trem é mais confortável e barato que morar em muitos bairros da capital. Por isso que muita gente escolhe fazer isso.

Assim como o fato de uma rodovia moderna como a Castello Branco incentiva a classe média a morar em Itu ou em Sorocaba e trabalhar na capital.

Na verdade, o que eu defendo é que a infra-estrutura de transporte deveria ser pensada PREVENDO a demanda e a ocupação urbana, não esperando a demanda chegar a um ponto insuportável. Só se investe em metrô, por exemplo, quando se tem densidades populacionais e demandas muito altas.

Cláudio disse...

Outro problema sério que faz com que a população tente ocupar uma parcela pequena da geografia de uma cidade é a oferta de serviços. Em qualquer subúrbio americano você encontra Wal-mart, Target, Circuit City, Best Buy, etc. etc. etc. etc. além de restaurantes, salas de exibição com 20, 30 cinemas. Fui fazer um curso recentemente num subúrbio de New Jersey e, em alguns quilômetros da estrada estadual, tinha mais mais oferta de serviços do que em toda a cidade do Rio de Janeiro. Isso para não falarmos das transversais. Junte-se a isso uma rede de transporte ferroviário decente, estradas divinas e gasolina relativamente barata, por que alguém iria sair dali para viver socado no centro?

Mas aí entra o melhor: quase ninguém precisa sair de lá. Afinal esses serviços todos demandam mão-de-obra. Logo, as pessoas do local acabam trabalhando a poucos quilômetros de suas casas.

Os subúrbios do Rio de Janeiro estão morrendo, comércio fechando e com ele as ofertsa de emprego. Natural que as pessoas que vivem lá tenham que buscar empregos em bairros mais distantes.

Como se vê, não se trata de apenas um mas sim de um conjunto de fatores que colaboram para a concentração de pessoas nas zonas nobres... Do Rio, pelo menos.