17 de dez. de 2006

Uma resposta?

O blogueiro Claudio Avolio fez o seguinte comentário, muito interessante por sinal, no post anterior:

"Com a deterioração da qualidade dos serviços públicos (segurança, transporte, limpeza urbana, etc.), somente os bairros mais nobres, cujos moradores possuem maior influência política, mantiveram um mínimo de qualidade nesses serviços. Isso faz com que aqueles que viviam nos bairros mais modestos mas que tinham um condição econômica melhorzinha se esforçassem para se mudar para os bairros nobres. Esse surto de demanda explicaria o boom dos valores dos imóveis nas áreas nobres. Nos bairros mais modestos só ficou quem não podia sair de lá.

Com uma condição melhor para fazer negócios, os bares, restaurantes e comércio procuram se estabelecer nas áreas nobres o que faz com que essas áreas se tornem mais interessantes para o indivíduo de alta renda. E o ciclo virtuoso (ou vicioso) se mantém como no célebre caso tostines.

Fora isso, acho que não podemos deixar de lado o fator status, muito forte na nossa sociedade. Conheço muita gente que chega ao final do mês sem um tostão para morar em Ipanema ou Leblon.

Resumindo, acho que é um conjunto de fatores:

1) Menos piores serviços públicos básicos
2) Maior presença de comércio
3) Status

Mas essa opinião baseia-se apenas na observação do cotidiano do Rio de Janeiro."

Quem tiver outra experiência de cidade grande para contar, é bem vindo. E, dentre todos os serviços públicos listados, o mais importante, sem dúvida, é o de segurança. Se alguém tiver o trabalho de sobrepor os mapas de violência e distribuição geográfica por renda, a correlação é bastante forte. Muitas vezes a parte mais difícil de morar num bairro nobre não é nem comprar o imóvel, mas pagar o condomínio. É como se através do condomínio o indivíduo fosse obrigado a pagar para sustentar o fornecimento privado desse bem público(1) que é a segurança. Como não é possível excluir de maneira perfeita o consumo do bem público por parte de quem não o paga, esses serviços privados acabam por elevar o preço dos terrenos próximos(a busca por segurança é uma parte importante da demanda). Tanto que a expansão de áreas pobres violentas ao redor dos bairros que reúnem as pessoas de maior poder aquisitivo leva a uma desvalorização considerável desses imóveis.

Quanto ao status, ele acaba sendo um elemento diferenciador entre as pessoas que já moram nesses bairros mais conceituados. Por exemplo, eu moro num bairro de Niterói que possui um certo status. Mas eu não moro na praia desse bairro. Praia que se encontra, inclusive, bastante poluída e imprópria para o banho. Mesmo assim, se eu quiser caminhar e ver a praia, não demoro mais que 10 minutos para chegar nela. E o preço que se acresce pelo fato de se morar em frente à praia é bastante considerável. E eu tenho acesso aos mesmos serviços de comércio e lazer que essas pessoas (mesmo o meu acesso à praia é praticamente igual), os serviços públicos oferecidos não conseguem ser diferenciados. Não tenho dúvida que o status de morar naquela parte específica do bairro tem um peso enorme no preço final do imóvel. Se não for o caso, vai gostar assim de vista pro mar lá na...

(1)na definição de Paul Samuelson: [goods] which all enjoy in common in the sense that each individual's consumption of such a good leads to no subtractions from any other individual's consumption of that good. Por exemplo, se existe um serviço de segurança para um corredor de um andar, mesmo que a intenção seja proteger apenas um apartamento, os outros apartamentos acabam sendo protegidos. O desafio para garantir o fornecimento do bem público é saber se é possível cobrar de todos os que consomem aquele bem(a cobrança de condomínio parece solucionar esse problema).

Se não é possível excluir ninguém do consumo desses bens, então o chamamos de bem público puro. Por exemplo, se você protege as fronteiras de um país, todos os que pertencem àquele país se beneficiam desse serviço, não dá para excluir ninguém do seu consumo. Se os impostos fossem facultativos, algumas pessoas que consumiriram o bem público puro poderiam optar por não pagar por ele, já que os outros arcariam com todos os custos e elas consumiriam do mesmo jeito. Mas isso é outra discussão que não cabe aqui.

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