16 de dez. de 2006

Uma questão que gostaria de ver, algum dia, respondida

Sempre me surpreendi com a distribuição populacional das cidades. Parece existir um padrão recorrente no fato das pessoas serem dispostas geograficamente de acordo com a sua renda. Uma hipótese mais simples afirmaria que ocorre uma reedição de suposta luta de classes: os ricos não gostam dos pobres, ponto final. Mesmo assim, talvez uma parte desses ricos não nutrisse esse tipo de antipatia e não se importasse em ter como vizinho uma pessoa pobre. Poderia existir uma correlação forte, mas não uma correlação quase perfeita entre renda e geografia, como ocorre atualmente. Será que existe uma razão efetiva?

Claro, alguém poderia responder que se deve aos preços dos imóveis. Mas o preço desses imóveis já não estariam associados com o fato da demanda por aquela área ser formada basicamente por pessoas de alto poder aquisitivo? O que devemos responder é porque as pessoas mais ricas optam em morar na mesma área, ao invés de alguém com poder aquisitivo morar num bairro meia boca.

Qualquer outra explicação, como por exemplo acesso a lazer e bens de luxo, pressupõe que os ricos habitem aquela área. Precisamos responder: por que os ricos se concentraram por lá e não se espalharam pela cidade? Será simplesmente por que são amiguinhos e gostam de conviver? Quem tiver uma explicação, pode me avisar.

2 comentários:

Cláudio disse...

Com a deterioração da qualidade dos serviços públicos (segurança, transporte, limpeza urbana, etc.), somente os bairros mais nobres, cujos moradores possuem maior influência política, mantiveram um mínimo de qualidade nesses serviços. Isso faz com que aqueles que viviam nos bairros mais modestos mas que tinham um condição econômica melhorzinha se esforçassem para se mudar para os bairros nobres. Esse surto de demanda explicaria o boom dos valores dos imóveis nas áreas nobres. Nos bairros mais modestos só ficou quem não podia sair de lá.

Com uma condição melhor para fazer negócios, os bares, restaurantes e comércio e procuram se estabelecer nas áreas nobres o que faz com que essas áreas se tornem mais interessantes para o indivíduo de alta renda. E o ciclo virtuoso (ou vicioso) se mantém como no célebre caso tostines.

Fora isso, acho que não podemos deixar de lado o fator status, muito forte na nossa sociedade. Conheço muita gente que chega ao final do mês sem um tostão para morar em Ipanema ou Leblon.

Resumindo, acho que é um conjunto de fatores:

1) Menos piores serviços públicos básicos
2) Maior presença de comércio
3) Status

Mas essa opinião baseia-se apenas na observação do cotidiano do Rio de Janeiro.

[]s

nenhum disse...

Há diversos pontos que explicam isso. Em grande parte ricos sim tentam se afastar dos pobres(em parte por segurança), mas há outras questões, como acesso a serviços públicos e facilidades de logística.

Por exemplo, até a Revolução Industrial os pobres preferiam morar no entorno das cidades, para ficarem próximos das oficinas em que trabalhavam, enquanto a aristocracia se concentrava no centro.

Com o advento do automóvel, muitos ricos iriam para subúrbios. Na verdade, o padrão é mais que social. No Rio isso é dificil de aferir por quê quem pode mora do lado da praia, e os pobres se contentam com a periferia, mas em São Paulo, por exemplo, se repete a tendência americana de famílias procurarem subúrbios(Como Itu e Jundiaí), casais e solteiros ricos bairros de fácil acesso nas regiões centrais enquanto os pobres e a classe média mais baixa o entorno da CPTM e a Zona leste.

O livro Crabgress Frontier, de Kenneth Jackson é uma boa abordagem do assunto, apesar de ser bastante esquerdinha. ; )

Minha tese é que a rede de transportes que define a ocupação urbana, não o contrário.