30 de abr. de 2007

Liberalismo: uma autocrítica

A maior parte das pessoas com as quais converso até concordam com o ponto de vista liberal, mas julgam que uma ordem social liberal seria muito instável. Acreditam, por exemplo, que os direitos individuais seriam distorcidos pela desigualdade de renda resultante da ordem de mercado. Particularmente, eu acho que os pensadores liberais não deram a devida atenção a este tipo de crítica.

Veja que ela é diferente da clássica crítica de que o liberalismo seria mera apologia da 'exploração'. Esta crítica é mais sutil, pois a pessoa concorda com o ideal de sociedade dos liberais, mas acredita que uma ordem social liberal seja utópica.

E, se formos ver o mundo real, constataremos que nosso sistema judiciário realmente é permeado por injustiças, e que talvez muitas delas se refiram à desigualdade de renda. O erro está em imaginar que esta seja a única fonte de injustiça de um sistema judiciário. Há injustiça em discriminar por profissão, por afinidade ideológica, por religião, por raça, por sexo, por estilo de vida, etc. Enfim, há injustiças cometidas que afetam tanto ricos quanto pobres.

O fato do liberalismo conviver bem com uma sociedade em que haja desigualdade de renda, desde que esta desigualdade seja oriunda de um processo justo, não significa o mesmo que ser indiferente às injustiças que possam ser cometidas por pessoas em posições privilegiadas da distribuição de renda. Sem deixar clara esta distinção, o liberalismo não tem muito futuro por aqui.

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