Pobre gosta de liberdade? Pobre se beneficia da liberdade?
Conheço muita gente que gosta de dizer que pobre não gosta/não liga/não quer liberdade. Há versões ainda piores, que pobre não pode/é incapaz/não se beneficia de ser livre.
Sem dúvida que a pobreza é um estado menos preferível à riqueza. Mas não é, definitivamente, o pior estado no qual o homem pode estar.
Primeiro, há o problema de definir exatamente o que seja pobreza. Há, basicamente, 2 conceitos bastante utilizados: pobreza absoluta e pobreza relativa.
Pobreza absoluta significa que a renda que o indivíduo aufere durante um determinado período de tempo considerado relevante para a reposição de suas energias vitais não é suficiente para que ele se mantenha saudável. Mesmo esta pobreza não pode ser vista como equivalente a uma renda específica, pois em diferentes contextos econômicos esta renda pode variar de acordo com o preço das mercadorias básicas. E ainda teríamos que definir o que vem a ser esta cesta básica de consumos. Ao definir esta cesta, e não a renda, temos uma leitura mais apropriada para julgar o nível de pobreza absoluta de uma determinada região.
Mas não somente o nível de renda é importante, como também sua regularidade. O grande problema da sociedade de subsistência era a sua fragilidade frente às intempéries da natureza, como uma geada que destrói a colheita. Mesmo que a sua renda fosse suficiente para repor as energias vitais, a falta de regularidade ao auferir esta renda poderia indicar uma forte chance de, em algum ponto da sua vida, morrer de fome. Leituras mais apuradas deveriam levar em conta um mínimo de reserva, seja de recursos financeiros, seja de alimentos/roupas etc. para enfrentar momentos de adversidade que podem acontecer.
Já a pobreza relativa se refere ao fato de que, relativamente ao resto da população, um grupo de pessoas é pobre. Todos nós, exceto o homem mais rico do mundo, é relativamente mais pobre do que alguém. Podemos utilizar a pobreza relativa de duas formas: uma pobreza relativa mundial e uma pobreza relativa em cada sociedade. Mas como definir uma sociedade? A pessoa que é relativamente pobre no Rio de Janeiro pode ser alguém de renda média no Nordeste. Ou seja, apesar do Estado Nacional ser normalmente a medida do que consideramos como relevante para estudar a sociedade, não é claro que esta seja uma boa esfera para estudar a pobreza relativa.
Há um significado sociológico em ser relativamente pobre. Faz diferença sim ser o mais pobre de uma dada sociedade, mesmo que não se seja pobre em absoluto.
De qualquer forma, o meu ponto é o seguinte: se a sua luta diária é meramente tentar sobreviver, a liberdade talvez não seja algo que esteja entre as suas reclamações mais urgentes. Mas não nos iludamos: a ausência de liberdade pode ser um elemento que impede a retirada de milhões de pessoas da miséria, vide o caso da Coréia do Norte. O fato, portanto, das pessoas que são absolutamente pobres não ligarem tanto para a liberdade em si mesma(capacidade de fazer escolhas) não significa que elas não valorizariam a liberdade como instrumento para sair da miséria. O desperdício de recursos resultante de uma má alocação não é só economicamente lamentável como também, ou até mais, moralmente condenável.
No caso da pobreza relativa, a relação com a liberdade em si mesma já não é tão clara. O indivíduo pode já ganhar uma renda acima daquela necessária para meramente repor suas energias(apesar de que provavelmente ainda seria duramente afetado se a sua fonte de renda cessasse durante um tempo prolongado). E ele passa a se importar sim com a sua liberdade de escolha. Senão vejamos:
-pobre não liga se determinarem que ele case com uma pessoa específica?
-pobre não liga se o proibirem de sair de uma determinada cidade?
-pobre não liga se não puder mais freqüentar a sua Igreja ou mudar de religião?
-pobre não liga se o proibirem de ouvir determinados gêneros musicais?
-pobre não liga se proibirem a prática do futebol?
Curiosamente, se pensarmos bem, devido ao fato de que, infelizmente, as pessoas com menor poder aquisitivo normalmente possuem menor escolaridade, a liberdade com a qual eles menos se importarão é justamente aquela mais valorizada pela maioria dos que negam a importância da liberdade para os pobres: a liberdade de expressão.
Neste primeiro artigo, abordei o problema da pobreza e a dificuldade de defini-la. Além disso, listei uma série de escolhas que uma pessoa pobre, tendo superado, de alguma forma, o problema direto da subsistência, gostaria de ser live para fazer. No próximo artigo, tratarei mais a fundo a respeito da seguinte questão: mesmo que o pobre valorize a liberdade de escolher, ele se beneficia desta liberdade?
Sem dúvida que a pobreza é um estado menos preferível à riqueza. Mas não é, definitivamente, o pior estado no qual o homem pode estar.
Primeiro, há o problema de definir exatamente o que seja pobreza. Há, basicamente, 2 conceitos bastante utilizados: pobreza absoluta e pobreza relativa.
Pobreza absoluta significa que a renda que o indivíduo aufere durante um determinado período de tempo considerado relevante para a reposição de suas energias vitais não é suficiente para que ele se mantenha saudável. Mesmo esta pobreza não pode ser vista como equivalente a uma renda específica, pois em diferentes contextos econômicos esta renda pode variar de acordo com o preço das mercadorias básicas. E ainda teríamos que definir o que vem a ser esta cesta básica de consumos. Ao definir esta cesta, e não a renda, temos uma leitura mais apropriada para julgar o nível de pobreza absoluta de uma determinada região.
Mas não somente o nível de renda é importante, como também sua regularidade. O grande problema da sociedade de subsistência era a sua fragilidade frente às intempéries da natureza, como uma geada que destrói a colheita. Mesmo que a sua renda fosse suficiente para repor as energias vitais, a falta de regularidade ao auferir esta renda poderia indicar uma forte chance de, em algum ponto da sua vida, morrer de fome. Leituras mais apuradas deveriam levar em conta um mínimo de reserva, seja de recursos financeiros, seja de alimentos/roupas etc. para enfrentar momentos de adversidade que podem acontecer.
Já a pobreza relativa se refere ao fato de que, relativamente ao resto da população, um grupo de pessoas é pobre. Todos nós, exceto o homem mais rico do mundo, é relativamente mais pobre do que alguém. Podemos utilizar a pobreza relativa de duas formas: uma pobreza relativa mundial e uma pobreza relativa em cada sociedade. Mas como definir uma sociedade? A pessoa que é relativamente pobre no Rio de Janeiro pode ser alguém de renda média no Nordeste. Ou seja, apesar do Estado Nacional ser normalmente a medida do que consideramos como relevante para estudar a sociedade, não é claro que esta seja uma boa esfera para estudar a pobreza relativa.
Há um significado sociológico em ser relativamente pobre. Faz diferença sim ser o mais pobre de uma dada sociedade, mesmo que não se seja pobre em absoluto.
De qualquer forma, o meu ponto é o seguinte: se a sua luta diária é meramente tentar sobreviver, a liberdade talvez não seja algo que esteja entre as suas reclamações mais urgentes. Mas não nos iludamos: a ausência de liberdade pode ser um elemento que impede a retirada de milhões de pessoas da miséria, vide o caso da Coréia do Norte. O fato, portanto, das pessoas que são absolutamente pobres não ligarem tanto para a liberdade em si mesma(capacidade de fazer escolhas) não significa que elas não valorizariam a liberdade como instrumento para sair da miséria. O desperdício de recursos resultante de uma má alocação não é só economicamente lamentável como também, ou até mais, moralmente condenável.
No caso da pobreza relativa, a relação com a liberdade em si mesma já não é tão clara. O indivíduo pode já ganhar uma renda acima daquela necessária para meramente repor suas energias(apesar de que provavelmente ainda seria duramente afetado se a sua fonte de renda cessasse durante um tempo prolongado). E ele passa a se importar sim com a sua liberdade de escolha. Senão vejamos:
-pobre não liga se determinarem que ele case com uma pessoa específica?
-pobre não liga se o proibirem de sair de uma determinada cidade?
-pobre não liga se não puder mais freqüentar a sua Igreja ou mudar de religião?
-pobre não liga se o proibirem de ouvir determinados gêneros musicais?
-pobre não liga se proibirem a prática do futebol?
Curiosamente, se pensarmos bem, devido ao fato de que, infelizmente, as pessoas com menor poder aquisitivo normalmente possuem menor escolaridade, a liberdade com a qual eles menos se importarão é justamente aquela mais valorizada pela maioria dos que negam a importância da liberdade para os pobres: a liberdade de expressão.
Neste primeiro artigo, abordei o problema da pobreza e a dificuldade de defini-la. Além disso, listei uma série de escolhas que uma pessoa pobre, tendo superado, de alguma forma, o problema direto da subsistência, gostaria de ser live para fazer. No próximo artigo, tratarei mais a fundo a respeito da seguinte questão: mesmo que o pobre valorize a liberdade de escolher, ele se beneficia desta liberdade?
Um comentário:
Excelente. Fico à espera do próximo.
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