30 de jul. de 2007

Um dos melhores textos que já escrevi

Reproduzo, logo abaixo, um dos melhores textos que já escrevi(o que não quer dizer muita coisa, é verdade). Acredito que ele desmonte a maior parte das argumentações que visam a criticar a classe média:

Classe Média

A conceituação de classe média pressupõe a existência de duas outras classes, uma alta(ricos) e outra baixa(pobres).


A classe pobre não possui intelectuais. Uma pessoa de origem pobre que acabe por ser tornar um intelectual(supondo que a pobreza não foi um impedimento para que alcançasse tal formação)provavelmente deixará de ser pobre. A remuneração de um trabalho intelectual, seja no setor privado, seja no público, coloca o indivíduo na classe média ou na alta.

Quando se critica, portanto, uma determinada reação como típica da classe média, o próprio acusador provavelmente pertence a esta classe, ou até mesmo a uma classe superior.

O indivíduo pode alegar que está apenas criticando a reação típica, e que, apesar de pertencer à classe média, o seu discurso foge à norma, pois é um intelectual. Mas o intelectual, devido à remuneração do seu trabalho, provavelmente não é pobre, apesar de esta poder ser sua origem. Ou seja, o próprio exercício da crítica é típico da classe média, ou até mesmo dos ricos.

Uma outra tentativa de reformular a crítica é dizer que, apesar de sua posição de intelectual provavelmente o ligar à classe média, seu comportamento se distingue por levar em conta os problemas dos pobres, enquanto os outros intelectuais apenas justificariam a posição do grupo a que pertencem. Mas afirmar isto é ser redundante, pois todos os intelectuais pertencem às classes mais elevadas e, portanto, os diferentes posicionamentos políticos estarão representados naquela parte da sociedade.

Dizer que se foge da norma por tomar partido de outra classe, quando na verdade toda atividade intelectual está contida na classe a qual se pertence, significa ignorar que "tomar partido dos pobres" é, portanto, uma posição ligada ao comportamento daqueles que possuem renda média e dos ricos.

A última opção que nos resta, portanto, é reformular a crítica à classe média como sendo legítima apenas quando parte de pessoas que possuem origem pobre. Ou seja, seria através destas pessoas que a voz dos pobres ganharia força. Necessitamos de uma análise empírica para testar esta hipótese, a saber, se os intelectuais de origem pobre aderem ou não ao discurso crítico da posição de classe média. E, do ponto de vista histórico, investigar se os intelectuais que primeiro formularam esta crítica eram de origem pobre.

Mas uma outra análise empírica nos revelará uma informação importante: se a maior parte dos intelectuais que criticam a classe média enquanto grupo possui origem pobre.

29 de jul. de 2007

5 pontos que travam o debate no Brasil

1-monopólio do bem: implica em acreditar que o seu lado reune pessoas de boa intenção, enquanto seus adversários são todos oportunistas.

exemplo: os liberais só pensam no bem-estar dos ricos

2-a retórica pela retórica: hábito de tentar salvar sua teoria a qualquer custo, nem que seja em detrimento da busca pela verdade

exemplo: uso de imagens que mostram o 'ridículo' de um argumento

3-desprezo pelo princípio da caridade: o princípio da caridade nos diz que uma afirmação deve ser interpretada na sua forma mais forte, e não na mais fraca. É uma busca por encontrar algum conteúdo correto nas posições alheias.

exemplo: imaginar que a proposta da ausência de um controle estatal sobre uma determinada atividade implica em puro caos, ao invés de argumentar, de maneira pontual, os possíveis problemas e distorções que ocorreriam num mercado sem controle

4-monopólio da teoria: só um lado desenvolve teorias, enquanto as idéias do outro lado são, de alguma forma, produto da realidade em que vivem. Não existem teorias concorrentes(o modelo científico), mas sim iluminados e alienados.

exemplo: criticar o capitalismo a partir da tese da mais-valia, sem levar em conta os teóricos que questionaram a validade desta teoria

5-desprezo por fatos e dados: hábito de fazer afirmações sem se referir a uma base de dados e a uma coleção de fatos que os corroborem.

exemplo: culpar a corrupção pelo rombo do INSS, quando a maior parte do aumento de gastos sem contrapartida tem origem no aumento do salário mínimo oficial(que reajusta o teto mínimo das aposentadorias e pensões) acima do crescimento real da economia

27 de jul. de 2007

De volta

Eu voltei, agora pra ficar, por que aqui, aqui é o meu lugar...

24 de jul. de 2007

Questão de gosto

Eu trocaria os gastos atuais com Previdência Social pela ampliação do Bolsa-Família.

19 de jul. de 2007

Editorial do jornal O Globo

Este Editorial, que desde já considero histórico, foi publicado na data de 15/07/2007:


"Debate das Drogas:

Entre os temas incandescentes, capazes de deflagrar discussões apaixonadas, inclui-se o da legalização do uso de drogas. Dínamo da criminalidade em escala planetária, a produção, o tráfico e o consumo de cocaína, maconha, heroína — apenas para citar as de maior mercado — e substâncias sintéticas movimentam bilhões, preocupam governos e famílias. A luta contra essa indústria parece inglória, além de ser custosa em dinheiro e vidas. Com esse pano de fundo é que se coloca a questão: por que não legalizar o consumo de drogas, para afinal controlá-las?


A polêmica vem de muito tempo e nela acaba de desembarcar o governador Sérgio Cabral. Logo no início do seu governo, Cabral se colocou ao lado dos defensores da legalização. Posição reafirmada em recente entrevista a “Veja”: “Será que não é mais fácil legalizar e criar políticas públicas na área da saúde, para conscientização, para o controle?” É uma das perguntas que vêm sendo feitas nesse debate, e com participantes ilustres, alguns, à primeira vista, improváveis. Como o economista Prêmio Nobel Milton Friedman, americano, já falecido, um dos ícones do monetarismo, ultraliberal, tachado de inimigo pelas esquerdas.


Por liberal, Friedman defendia a liberdade no uso de drogas. Em 1991, numa entrevista transmitida por emissoras de TV da rede pública americana, ele explicou as razões pelas quais considerava um erro o Estado interferir em qualquer decisão individual. Friedman defendia para a cocaína e outras drogas o mesmo tratamento dado ao álcool. Se a pena para o motorista apanhado alcoolizado é alta, deveria ocorrer o mesmo para o inebriado por maconha. Considerava inútil a guerra das drogas, assim como foi ineficaz a Lei Seca (a Prohibition, como se referem os americanos), contra as bebidas alcoólicas.


Naquela entrevista, expôs uma tese instigante: ao reprimir o tráfico, o Estado protege o cartel das drogas, pois impede que entrem concorrentes no mercado e façam o preço da cocaína cair. A posição de Friedman é apoiada pela “Economist”, importante semanário inglês, também um totem do liberalismo. Em julho de 2001, a revista, em editorial, argumentava que o rigor da repressão ao tráfico, nos Estados Unidos, não se traduzia em queda do consumo — quase um terço dos americanos com mais de 12 anos admitia ter usado drogas —, apesar dos bilhões gastos nessa guerra, dinheiro que poderia ter outro destino.Não há resposta fácil a todas essas questões. Nem pode o Brasil legalizar esse mercado unilateralmente, sem que os grandes países consumidores o façam. Mas o tema está aí e precisa ser debatido. Não podemos fingir que ele não existe."

18 de jul. de 2007

Liberdade

Voltei. Mas apenas para linkar uma lista de propostas reunidas po um membro do LIBER. Peraí, você não sabe o que é LIBER? O antigo Partido Libertário Brasileiro virou Libertários, e adotou a sigla LIBER.

Pois bem, o partido passa por uma série de dificuldades institucionais, que envolvem, por exemplo, a publicação de nossos programa e estatuto no Diário Oficial(o custo é alto). Enfim, o objetivo deste post é mostrar as idéias que circulam pelo partido, que não implicam, necessariamente, que todos concordem com todas as propostas listadas. Eu diria, na verdade, que a maioria concorda com os princípios que norteiam as justificativas para cada uma destas medidas, mas que não implica, necessariamente, em apoiar todas as propostas particulares listadas abaixo.

Mas não quero que julguem, de antemão, o partido como 'besteira', simplesmente por discordar deste ou daquele ponto. Eu pergunto: vocês concordam integralmente com algum partido existente? Provavelmente a resposta será negativa. Da mesma forma, não é preciso concordar integralmente com as propostas do LIBER para apoiá-lo. As propostas listadas no link, repito, ainda precisam ser melhor debatidas, mas eu afirmo, sem medo, que as nossas propostas são melhores do que as propostas de qualquer partido existente. Leiam todos os pontos e façam sugestões, elas serão bem-vindas. Mas digam francamente: dada as propostas deste link, vocês preferem algum partido existente atualmente ou escolheriam o LIBER como melhor alternativa, desconsiderando questões de possibilidade de vencer(que são importantes, é claro, mas que não cabem nesta discussão que proponho)?

O link está aqui.

2 de jul. de 2007

Fechado por tempo indeterminado

Este blog interrompe suas atividades por tempo indeterminado.
Legitimidade = Estabilidade ? - parte 2

É tido como dado que os chamados movimentos sociais representem os interesses de determinados grupos...da sociedade(dã). Mas isto não deveria ser tido como dado, mas sim como algo a ser provado.

O chamado Movimento Negro representa os negros que compõem o movimento, os Sindicalistas representam os trabalhadores que são sindicalizados, o Feminismo representa as mulheres feministas, além de 'simpatizantes'. Mas não dá pra extrapolar e dizer que eles efetivamente representem estas coletividades, pois muitas vezes não é assim que os eleitores desses grupos agem. Na verdade, há uma forte cisão entre a pressão exercida por esses grupos organizados e a própria reação das pessoas que compõem estes grupos enquanto indivíduos. Ou alguém acha que a UNE representa a opinião dos estudantes em geral?(até porque não existem estudantes em geral, mas sim estudantes em particular, sendo que a única coisa em comum entre eles é o fato de serem estudantes).

Será que não damos por certo que desagradar movimentos organizados equivale a desagradar os pretensos representados por estes movimentos, quando na verdade essas mesmas pessoas simplesmente não ligam ou possuem opiniões opostas aos indivíduos que se organizam e atuam?
Legitimidade = Estabilidade ?

Uma característica desejável de um regime legítimo é que ele seja estável. Mas um argumento falso é muitas vezes usado, a saber, que um regime ilegítimo será necessariamente instável(algo como 'demanda por justiça'). Este tipo de modelo é usado em discussões sobre a democracia, quando se argumenta que uma série de demandas precisam ser atendidas pelo governo, não tanto pelo mérito próprio das mesmas, mas sim para evitar uma 'convulsão social'.

Acaba-se por 'naturalizar' uma demanda que pode ser simplesmente de um grupo organizado de pouco fôlego, e que pode desaparecer ao longo do tempo. Não deixa de ser curioso que todos os esforços feitos nas ciências sociais para criticar o processo de naturalização dos hábitos e costumes tenha acabado por 'naturalizar' a própria vontade individual, que não se curva a qualquer limite social, mas que é soberana. O grande erro foi ter ignorado que a própria existência de hábitos e costumes, assim como sua influência na ação humana, é algo 'natural' de um ser que vive em sociedade(o que não quer dizer que um hábito seja 'natural' em si mesmo, mas sim que ele está integrado numa longa cadeia de relações e possui um 'significado').

Mas deixemos esta discussão para uma outra hora. Um observador atento poderá conferir que vários regimes autoritários também podem ser estáveis, e fazem com que a população submetida ao regime passe por privações terríveis, inclusive a morte por inanição. E este regimes, embora terríveis, são por vezes mais estáveis do que democracias em busca de legitimidade.

Um regime legítimo e estável é o ideal. Em busca de estabilidade, considera-se que atender a demandas do 'povo' é uma forma de dar legitimidade ao regime, não importando tanto o conteúdo das reinvindicações. Ignora-se, no entanto, que regimes autoritários conseguem estabilidade sendo altamente ilegítimos, fazendo com que seu povo passe por privações terríveis que normalmente as democracias não experimentam.

A pergunta que eu faço, portanto, é a seguinte: uma democracia mais restritiva, no sentido de que certas demandas não devem ser atendidas por violarem certas regras que constituem('Constituição') as normas pelas quais a sociedade se baseia('Nomocracia') perderia necessariamente estabilidade, dado que regimes ilegítimos conseguem se manter estáveis mesmo agindo de maneira sádica? Será que as pessoas realmente se revoltariam tanto com procedimentos mais 'duros' para atender determinadas demandas, ou nós simplesmente aceitamos isto como dogma?
Hábito ruim

Um dos piores hábitos do estudante brasileiro* se dá quando, ao encontrar uma tese que ele desconhece e portanto concluir que ela é sem valor. Ou seja, tudo que é distinto daquilo que constitui seu nicho de estudo ou seu corpo de conhecimento não é autorizado a sobreviver.

Se estamos discutindo as causas da Segunda Guerra Mundial e alguém propõe uma visão alternativa sobre o assunto, ela é simplesmente descartada porque não é a visão convencional. Talvez alguém até diga: "seu burro, todo mundo sabe que...". Mas só existe o debate justamente para questionar aquilo que todo mundo sabe! A visão convencional pode ser usada para descartar uma tese alternativa no seguinte sentido: em primeiro lugar, a tese alternativa pode ser reduzida à tese convencional; em segundo lugar, a tese convencional pode refutar a tese alternativa, mostrando a falsidade de suas bases; em terceiro lugar, a tese convencional pode ser relativamente superior à tese alternativa(no caso em que as duas são bastante inadequadas). Mas meramente apresentar a tese convencional como prova de que a tese alternativa não se sustenta, sem articular uma em relação à outra, é fugir do debate.

Na verdade, este tipo de comportamento foi muitas vezes apresentados pelos intelectuais marxistas num período de maior ortodoxia: toda teoria alternativa ao marxismo que não pudesse ser deduzida dos pressupostos marxistas era simplesmente descartada como errada, não por insuficiência de explicar a realidade, mas pelo fato de não ser compatível com o marxismo. Que o marxismo era adequado para explicar a realidade não era mais questionado. As outras teorias só tinham vida em formato filomarxista(marxismo funcionalista, marxismo weberiano). Quando intelectuais anglo-saxãos 'ousaram' formular o marxismo analítico, foram bastante criticados por marxistas de todas as vertentes, não tanto pelo fato de não serem 'fiéis' ao marxismo(em certo sentido, toda corrente do marxista era 'herege'), mas por tentar estudar o marxismo sob a luz de uma tradição que se construiu a parte do próprio marxismo.

*falo do estudante brasileiro porque é aquele que eu conheço.