19 de dez. de 2006

Mais uma resposta?

O blogueiro André Kenji oferece uma outra resposta para a disposição geográfica das cidades:

"Há diversos pontos que explicam isso. Em grande parte ricos sim tentam se afastar dos pobres(em parte por segurança), mas há outras questões, como acesso a serviços públicos e facilidades de logística.

Por exemplo, até a Revolução Industrial os pobres preferiam morar no entorno das cidades, para ficarem próximos das oficinas em que trabalhavam, enquanto a aristocracia se concentrava no centro.

Com o advento do automóvel, muitos ricos iriam para subúrbios. Na verdade, o padrão é mais que social. No Rio isso é dificil de aferir por quê quem pode mora do lado da praia, e os pobres se contentam com a periferia, mas em São Paulo, por exemplo, se repete a tendência americana de famílias procurarem subúrbios(Como Itu e Jundiaí), casais e solteiros ricos bairros de fácil acesso nas regiões centrais enquanto os pobres e a classe média mais baixa o entorno da CPTM e a Zona leste.

O livro Crabgress Frontier, de Kenneth Jackson é uma boa abordagem do assunto, apesar de ser bastante esquerdinha. ; )

Minha tese é que a rede de transportes que define a ocupação urbana, não o contrário. "

Como se dá a migração intra-urbana em busca por segurança? Eu pensei num modelo razoavelmente simples. Imaginemos uma sociedade na qual não exista crime. E, mesmo que exista, são crimes passionais que, por serem esporádicos, são de difícil previsão de que quando ocorrerrão e, portanto, não se pode fazer muito para evitá-los. Não importa muito, portanto, o local no qual os indivíduos moram. Nessa cidade, ricos e pobres moram misturados(não há problema de bens públicos além da segurança). Vamos supor que uma atividade criminosa seja iniciada. Certamente, esses criminosos terão uma limitação geográfica, delimitando sua área de atuação(da mesma forma que uma atividade econômica qualquer).

Ora, diante dessa violência, os ricos, justamente por possuírem mais recursos, são capazes de dispor desses recursos para se afastarem das áreas consideradas violentas, enquanto os pobres, que possuem recursos limitados, dificilmente conseguirão se afastar das áreas mais violentas. E essa violência provoca uma bola de neve: o roubo é como se fosse um custo adicional com o qual os agentes econômicos precisam lidar, e isso pesará nas suas decisões produtivas. A região decai economicamente, tornando-se mais pobre por causa da atividade parasitária do crime.

É como se a atividade criminosa destrutiva, portanto, afastasse os indivíduos mais produtivos e mais ricos daquela região, fazendo com que habitem naquela área apenas as pessoas mais pobres e condenando essa região a uma pobreza rotineira.

Sobre a evolução histórica das cidades, conheço pouco a respeito, mas esta possui uma serventia limitada, pois só nos orienta para saber como que as coisas evoluíram até então. A disposição passada não pode nos explicar a persistência de uma determinada disposição no presente e nem como esta disposição pode se apresentar no futuro.

Sobre a tese da rede de transportes definir a ocupação urbana, não consigo ver como isso pode provocar uma divisão geográfica mais ou menos uniforme por renda.

Um comentário:

Cláudio disse...

Um exemplo claro, principalmente entre a classe média, é o caso do metrô. Os imóveis no Rio de Janeiro, onde o tempo para se deslocar está cada vez maior, que estão localizados próximo ao metrô são bem mais valorizados que os mais afastados. Isso vale para bairros como Botafogo e Tijuca principalmente. Como o preço do imóvel dispara (ao ponto de um apto de 2 qts e +/- 100 m2 custar algo em torno de 300 mil), acaba concentrando uma parcela da classe média mais "endinheirada" nessas regiões. Quando uma região acumula atrativos cobiçados pela população local, os imóveis sobem de preço e conseqüentemente espanta os mais pobres.