29 de jan. de 2007

Comentando os comentários

Gabiru pede para que eu explique melhor estes trechos: "progressistas e portanto anti-liberais" e "conservadores, logo liberais".

Bem, só dá para entender esta equivalência se remetermos a um trecho anterior: "a imagem do liberalismo como algo inerentemente conservador ainda não foi dissipada do imaginário popular". E não foi mesmo, inclusive entre aqueles que se pretendem partidários do liberalismo. Por isto eu coloquei que, mesmo com o fracasso do socialismo ao longo do século xx, ser progressista ainda se associa com uma posição anti-liberal, enquanto que o liberalismo seria uma postura de quem é conservador. O liberal, na verdade, só é conservador por acidente, pois se opõe a reformas que sejam contrárias aos princípios do liberalismo, e não contra qualquer reforma.

Uma rápida pesquisa pela internet revela que algumas pessoas utilizam expressões como "liberal-conservador", "liberal e conservador", "liberal na economia e conservador nos costumes". Mas liberais e conservadores são aliados casuais, não a mesma coisa. E esta aliança fazia mais sentido num contexto de guerra fria, onde as grandes ameaças à liberdade tinham origem na esquerda. Hoje, num mundo pós-muro, não me parece tão óbvio que seja a esquerda quem ameaça mais a liberdade. Até porque a crítica liberal foi usada pelos conservadores como forma de enfrentar o socialismo, mas ignorada quando esta mesma crítica abalava e questionava as posições conservadoras. O tal liberal-conservadorismo, portanto, nada mais é do que um conservadorismo que se utiliza das críticas liberais ao socialismo. Como a ameaça socialista foi praticamente varrida do mapa(apesar de teimar em não morrer em certo lugares), o liberalismo que se torna urgente precisa necessariamente criticar as bases dos seus antigos aliados.

E eu só vejo uma forma dos liberais se desprenderem da armadilha conservadora, que é recuperar a literatura liberal da época em que o grande confronto ideológico era entre conservadores e liberais, exatamente o esquecido século XIX.

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