28 de dez. de 2006

A(s) mentalidade(s) anti-capitalista(s)

Sempre gostei de Política. Não dessa politicazinha, com p minúsculo, a política partidária de mera disputa pelo poder. Mas da Filosofia Política, que lida com as idéias e instituições que caracterizam o que somos e o que podemos ser enquanto sociedade. É essa Política que, incidentalmente, fornece os argumentos com os quais a politicazinha nossa de cada dia é jogada.

Por isso a crítica das idéias é tão importante. O marxismo, por exemplo, passou quase 50 anos na quase absoluta irrelevância até que se tornasse o paradigma de uma era. O mesmo ocorreu, em menor escala, com o PT. Alguns podem ter sido surpreendidos com a vitória de Lula em 2002 e sua conseqüente reeleição em 2006. Tentarão explicar o seu sucesso devido à falta de informação dos eleitores(como se em alguma eleição os eleitores tivessem informação perfeita), ao uso político do Bolsa-Família(como se ele não tivesse ganho em todas as faixas de renda), ou à ignorância do povo(como se não tivesse apoio considerável no meio universitário). A verdade é que o PT levou a eleição por representar idéias que são dominantes na sociedade brasileira. Os fatores apontados anteriormente são marginais, pois não explicam a ascensão do partido nos últimos 20 e pouco anos.

Mas para criticar uma idéia é preciso, antes de tudo, entendê-la. E nada mais confuso do que o uso do termo capitalismo, de significação distinta para uma série de pessoas. E cuja rejeição se baseia nos mais variados argumentos, muitas vezes contraditórios entre si. Listo, a seguir, as críticas, totais ou reformistas, mais comuns ao capitalismo, para posterior crítica nesse blog. A minha exposição se dará nos termos comumente usados pelas pessoas que argumentam dessa forma, não significando que eu concorde com as colocações feitas a seguir.

1-a crítica marxista: para Marx, o valor de um bem é determinado pela quantidade de trabalho empregada para produzí-lo. No processo de produção capitalista, é dito pelos economistas burgueses que o indivíduo é remunerado de acordo com a produtividade do seu trabalho, em contraste com os sistemas anteriores nos quais existiam uma série de restrições à livre iniciativa. Mas, na verdade, esse sistema é baseado na exploração, pois para produzir é necessário possuir os meios pelos quais se produz(capital), e estes são detidos apenas por uma pequena parte da sociedade. O trabalhador, portanto, vende livremente sua mão de obra para o dono do capital, que não trabalha e mesmo assim possui uma remuneração final, chamada de mais-valia, que é auferida pelo fato de não se remunerar todo o trabalho feito, mas sim em pagar menos do que aquele trabalho vale. Somente quando os meios de produção pertencerem aos trabalhadores, a exploração chegará a um fim.

2-a crítica da discriminação: no capitalismo, o indivíduo é remunerado de acordo com a produtividade do seu trabalho, segundo os economistas burgueses. Mas, na verdade, uma série de fatores influenciam na remuneração. Mesmo dois indivíduos capazes de executar o mesmo trabalho com a mesma eficácia acabam por receber remunerações distintas. Isso ocorre porque há um processo de discriminação contra negros, homossexuais, mulheres, etc que reflete a cultura daquela sociedade. Portanto, mesmo que não exista uma discriminação oficial, a mesma está presente no mercado de trabalho.

3-a crítica da oportunidade: o problema do capitalismo está no fato de que, apesar do indivíduo ser remunerado de acordo com a produtividade do seu trabalho, essa produtividade é determinada apenas em parte pelo esforço do indivíduo, já que algumas pessoas tiveram oportunidade de aprender a ler, conhecer outras línguas, cursar uma universidade, etc, enquanto outras não viveram num ambiente propício para desenvolver suas capacidades. Quando essas pessoas competem por um emprego, portanto, a seleção reflete a distinção do ponto de partida.

4-a crítica dos valores: o grande problema do capitalismo é que os valores morais, antes absolutos, passam a ser julgados em termos monetários, ou seja, dependendo do retorno que determinada atividade possa dar, o indivíduo aceitará roubar, matar, enganar, se prostituir, etc. A busca pela recompensa material incentiva o comportamento imoral.

5-a crítica do consumismo: o problema do capitalismo é que os indivíduos deixam de pensar no seu próprio bem estar e gastam seus recursos com futilidades, influenciados pela propaganda das empresas.

6-a crítica da eficiência: o problema do capitalismo está no fato de que os recursos que poderiam ser usados para produzir bens de maior qualidade são desperdiçados em aspectos simbólicos. Ou seja, a alocação de recursos não produz um resultado objetivamente eficiente(um tênis de uma marca famosa que custa 200 reais a mais que um outro tênis de mesma qualidade), apenas subjetivamente.

7-a crítica da desigualdade: no capitalismo os recursos são alocados de maneira eficiente, mas são desigualmente distribuídos.

fraca: Se essa desigualdade for muito grande, haverá uma formação de classes no sentido marxista do termo, provocando a falência do capitalismo. É preciso, portanto, distribuir os recursos(principalmente renda) de tal forma que a demanda pela revolução não aconteça.


forte: somente o socialismo é capaz de distribuir os recursos com igualdade

8-a crítica do convencionalismo: é verdade que no capitalismo o desejo dos consumidores é satisfeito. Mas isso impede com que verdadeiros artistas, cujas obras não são populares, sejam financiados e produzam. O mesmo ocorre com a ciência, que não avança devido ao fato das empresas só se interessarem pela área aplicada e não pelo desenvolvimento da ciência pura. Por isso, para garantir a existência da arte e do progresso científico, o governo deve intervir.


Para os leitores: vocês lembram de mais alguma crítica anti-capitalista?

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