20 de jan. de 2007

Comentando os comentários

Gabiru pergunta: "como incluir Hayek, Popper, Nozick e Friedman em nossa 'biblioteca pública'? (as aspas indicam a 'relação nacional' com os autores)".

Eu acredito que existam, basicamente, 3 medidas efetivas.

A primeira delas é garantir o acesso físico à obra destes autores. Seria preciso elaborar uma "bibliografia liberal básica", constituída de uns 10 livros, que deveriam se fazer presentes nas principais instituições de ensino do país, tanto públicas quanto privadas, principalmente nas universidades. No colégio em que estudei existia uma edição do "Capital" de Marx que um colega socialista leu com bastante dedicação. Do que adiantaria eu indicar para ele "O Caminho da Servidão" se ele não acharia este livro fisicamente disponível por lá? Um livro de Locke, outro de Hume, Adam Smith, Kant, John Stuart Mill, Hayek, Karl Popper, Milton Friedman, Nozick. E, para completar, uma edição de "Liberalismo - antigo e moderno" do Merquior, a melhor bibliografia do pensamento liberal que li até hoje.

A segunda é entrarmos em contato com as editoras e mostrar para elas que há mercado para a edição de livros liberais. Muitas obras ainda se encontram sem tradução para o português, outras já foram traduzidas mas estão, atualmente, fora de catálogo. Livros de Hayek como "Fatal Conceit", "Counter-Revolution of Science", "Individualism and Economic Order" nunca foram traduzidos para o português, enquanto outros livros dele como "Constitution of Liberty" e "Law, Legislation and Liberty" se encontram fora de catálogo. O mesmo ocorre com "Anarchy, State and Utopia" do Robert Nozick, "Free to Choose" e "Capitalism and Freedom" do Milton Friedman e os livros do Raymond Aron sobre marxismo.

A terceira é a leitura destes autores pelos próprios liberais. Muito do que pode ser chamado de "liberalismo brasileiro" ainda se baseia, basicamente, no pensamento anti-comunista. É verdade que o liberalismo é, ele mesmo, também anti-comunista. Mas também é verdade que o liberalismo possui sua própria agenda positiva de reformas, que muitas vezes são contrárias às reformas propostas por outros anti-comunistas. Ser anti-comunista é condição necessária, mas não suficiente, para ser liberal. Até um fascista é anti-comunista. Carlyle era a favor da escravidão e contra o comunismo. Os liberais possuem suas próprias razões para serem contra o comunismo. Sem entender estas razões não é possível ser liberal apenas por ser contra o comunismo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Renato,

Às vezes penso em encarar a cruzada do liberalismo como uma espécie de evangelização. Eu sou protestante e uma das coisas que vemos na igreja são os missionários que saem pelo mundo pregando a palavra da bíblia. Na igreja existe uma organização chamada "Gideões da Boa Vontade", que são pessoas que patrocinam a confecção e distribuição de bíblias.

Por que não fazer o mesmo? Por que não montar uma ONG que recebesse doações e comprasse tiragens de livros clássicos e os doasse a bibliotecas públicas e escolas?

Liberalismo também é autruismo. Eu pagaria do meu bolso se soubesse que era para garantir um país melhor para mim (quando voltar) e para os meus filhos.