17 de jan. de 2007

Dualidades na política(post altamente especulativo, espero críticas)

Direita x Esquerda, Liberalismo X Marxismo, Capitalismo x Socialismo. Durante a guerra fria, a divisão era fácil: a direita era capitalista liberal, enquanto a esquerda era socialista marxista.

Mas será que era tão fácil assim? Nem tanto. Mas é como muitos ainda jogam o jogo político. As únicas oposições claras, para mim, são entre liberalismo e marxismo, capitalismo e socialismo. Mas não são as mesmas divisões. Em primeiro lugar, nem todo socialista é marxista. Não precisa aceitar, portanto, todas as teses marxistas que são críticas do capitalismo liberal. Mas todo marxista é, necessariamente, anti-liberal. São posições antagônicas, que não podem se conciliar.

Desde o final do século XIX até a era pré-globalização, muitos julgaram ser possível defender um socialismo que fosse liberal. É contra esta posição que Hayek escreveu "O caminho da servidão". Para Hayek, o liberalismo político, que garante as liberdades individuais, é incompatível com o planejamento econômico proposto pelo socialismo. Agora me bate uma dúvida: se muitos tentaram formular um socialismo que fosse liberal, será que alguém tentou propor um capitalismo de inspiração marxista?

Nem todo socialista é marxista, mas todo marxista é anti-liberal. Muitos se pretendem liberais e socialistas. E os liberais? Mesmo entre os liberais, a aceitação do capitalismo nunca foi unânime(o italiano Croce distinguia entre liberalismo e liberismo). E o século XX assistiu a regimes que eram economicamente capitalistas e politicamente anti-liberais, mas não necessariamente marxistas. Se a liberdade econômica pode ser considerada como condição necessária para garantir a liberdade individual, ela não é condição suficiente.

E a esquerda? Se ela for sinônimo de socialismo, não precisa ser necessariamente marxista, ou anti-liberal. Pode defender um socialismo que seja liberal. E a direita? Se ela for sinônimo de capitalismo, não significa que precise defender o liberalismo no campo das liberdades individuais. Pode defender um capitalismo anti-liberal.

Mas e se a tese de Hayek estiver correta? E se o socialismo for inerentemente anti-liberal? Só restaria à esquerda que se pretende liberal adotar o capitalismo como regime econômico. Se ela o fizer, passa a ser superior à parte da direita que defende apenas o capitalismo mas rejeita as liberdades individuais? O que é ser de esquerda e liberal? O que é ser de direita e liberal?

3 comentários:

Orlando Tambosi disse...

Salve, Drumond,

no ano passado tratei bastante desse tema (esquerda/direita) no meu blog. Acho que a distinção já não faz muito sentido. No geral, as idéias liberais venceram o marxismo, mortinho da silva. REvogar a economia de mercado - que antes da queda do muro e do desmoronamento da União Soviética era objetivo do socialismo/comunismo -, só alguns doidos pensam (até aqui na Cucaracholândia). Mas o liberalismo, por aqui, tem sido encarado só na sua variante economicista, ao passo que o tema da liberdade inclui as liberdades civis e as liberdades políticas. Nosso liberalismo, portanto, é de araque.
Ser anticapitalista, por outro lado, é como dizer à história: pára que eu quero sair. Não há saída.
Assim, dentro do capitalismo, a questão não é mais esquerda/direita, mas entre democratas e não-democratas (de "esquerda", de "direita" ou seja lá o que for que penda para o autoritarismo e à ditadura).
O problema é que parece haver também liberais não-democráticos.
É um nó....

Abs.

Orlando Tambosi disse...

Caro Drumond,

há economicismo assim como há sociologismo. Penso que são´, digamos, vícios das profissões. E, bem, acho que há filosofismo também (principalmente se pensarmos em social-construitivas, pós-modernistas, relativias etc.).

negoailso disse...

no Brasil a noção de direita foi excessivamente imputada ao militarismo pós-64. MAIS precisamente em relação as liberdades de reunião, de expressão, et cetera (ou seja, as mais comumente afetadas por uma ditadura - as liberdades individuais; o que fere, a priori, o liberalismo): aqui foi a esquerda quem combateu o estado anti-liberal mas não necessariamente marxista.

daí esquerda liberal soar menos estranho. inclusive quanto a aceitação de dogmas morais, como quando Lula foi, no começo do primeiro mandato, à àfrica e 'pediu desculpas' por nosso passado escravocrata; em nosso 'imaginário', isso cabe em uma posição de esquerda; embora, caso Bush faça o mesmo (ou se asinasse kioto) este não será 'enquadrado' como esquerdista (e ainda as intolerâncias relacionadas a extrema direita (ainda que por nosso 'imaginário'): nacionalismo, fervor religioso, racismo).

acho que, por isso, foi aventada uma 'terceira via': para que o liberalismo tivesse 'freios' (nosso caminho civilizatório ainda usa-os; inclusive a perceptividade para com o quê são (ou servem)os freios é acompanhada dos os desvios - em forma de crimes, neuroses, etc.- o mal-estar da civilização), e os utilizasse com a consciência de proteger (prevenir seria um verbo mais adequado, menos como previsão, mais como proteção) o cidadão .